Quarta-feira, 1 Maio

Spike Lee e David Byrne juntos numa utopia feliz a abrir o Porto/Post/Doc

David Byrne criou um espetáculo de sucesso na Broadway e pediu a Spike Lee que o imortalizasse em filme. O resultado é o filme-concerto “American Utopia”, que vai abrir o Porto/Post/Doc e está disponível na plataforma HBO.

Uma hora e 45 minutos de memórias de alguns dos êxitos dos Talking Heads, mas também do álbum a solo que dá nome ao espetáculo (American Utopia). Pelo meio ainda a oportunidade de interpretar a canção protesto de Janelle Monáe “Hell You Talmbout“, durante a qual Byrne e os 11 elementos da banda vão gritando os nomes de algumas das vítimas de confrontos com a polícia. Além dos americanos, a brasileira Marielle Franco integra também a lista. A versão filme de Spike Lee permite mostrar no ecrã os nomes que faltam à canção e dar rosto a algumas das vítimas.

Este é talvez o momento menos alegre do concerto. Mas também não é um momento triste. É de reflexão e de protesto, como Byrne defende, mesmo sendo ele “um homem branco de uma certa idade”. Todo o concerto pretende ser um momento para acolher as diferenças. Byrne lembra que ele próprio é um escocês naturalizado, assim como grande parte dos elementos da sua banda que vêm de França, Brasil e Canadá, além dos EUA. É essa reunião que permite criar o que o público está a ver, garante.

Todos descalços e vestidos com o mesmo uniforme – fato cinzento – Byrne parece dizer que todos são iguais, sem que se confundam na multidão. Em palco estão todos livres das amarras dos cabos dos instrumentos, para que possam seguir os passos de dança criados por Annie-B Parson. Coreografias que dizem aos espectadores estarem a ver músicos chamados a executar com sincronismo perfeito os passos que lhes pediram e não perante bailarinos.

Entre as cerca de 20 músicas, Byrne vai falando sobre quem somos, como crescemos e, claro está, a diferença e a necessidade de sermos nós a escolher o nosso futuro, através do voto. O concerto foi filmado em fevereiro, mas as eleições norte-americanas já estavam na ordem do dia. Sem indicar um sentido de voto, Byrne aliou-se a uma organização para ajudar a registar eleitores, logo à saída do espetáculo.

Mas a música nunca deixou de ser o protagonista e não será de estranhar que de repente perceba que está a abanar a cabeça ou a bater o pé ao som dos clássicos. Ainda para mais quando Lee nos mostra – ainda que por breves instantes – uma realidade cada vez mais distante: uma sala cheia a dançar e cantar ao ritmo de Byrne. “Everybody’s Coming to My House”, “Burning Down the House”, “Don’t Worry About the Government”, “This Must Be the Place”, “Once in a Lifetime” são apenas alguns dos temas, que culminam no “Road to Nowhere”, cantado no meio do público.

O espetáculo esteve no Hudson Theatre, em Nova Iorque, de outubro de 2019 a fevereiro de 2020. Tem regresso marcado para setembro de 2021.

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