Quinta-feira, 28 Março

Bangla: 50% bengali, 50% italiano, 100% romcom

Depois da Festa de Cinema Italiano, "Bangla" estreia comercialmente nos cinemas nacionais

Mais do que esperar o mal, desejo o melhor.” Esta é a resposta de Phaim Bhuiyan quando lhe questiono sobre Donald Trump. Com alguma timidez, o jovem realizador e ator italiano – que trouxe até à Festa do Cinema Italiano a sua romcom, o divertido Bangla – carrega no corpo uma T-Shirt que diz: “Make Human Great Again“.

Nascido em Itália, de ascendência do Bangladesh, Phaim conta na sua primeira longa-metragem “a sua história mas também a de muitos da sua geração“.

No filme – que também nos fez lembrar East is East (Tradição é Tradição) – seguimos o próprio Phaim no protagonismo como um jovem muçulmano italiano de 2ª geração que se encontra preso entre as tradições familiares e a cultura italiana. Ele mesmo diz no monólogo inicial – num estilo muito stand up comedy – que é 50% bengali, 50% italiano e 100% um Torpignattara, referindo-se à parte mais radicalmente diversa da cidade de Roma.

O amor está em grande foco neste Bangla, em especial quando ele se apaixona por Asia (Carlotta Antonelli, a fazer lembrar Asia Argento), uma jovem de cabelo azul.

Estreado no Festival de Roterdão, o realizador reconhece que ficou bastante assustado quando aterrou na cidade holandesa: “Foi traumático (risos). Disseram que as sessões estavam todas esgotadas e o meu medo era pensar de que maneira ia reagir o público internacional a uma obra de cariz muito Romano.” Tudo correu bem e a audiência reagiu muito bem a um filme que começou a nascer quando o jovem cineasta fez uma curta para a Rai Due, chamada O Amor de Segunda Geração. “Na comunidade do Bangladesh existe o tabu em falar de amor e de sexo“, aponta-nos Phaim, afastando o cenário de se ter inspirado principalmente em projetos cinematográficos como The Big Sick: “Só vi o trailer quando estavamos a escrever o guião“.

Nas influências, existem as conscientes, como Clerks de Kevin Smith, Master of None (protagonizado por Aziz Ansari) e o filme do Paolo Virzi, Ovosodo. Depois, nas inconscientes, especialmente na forma de filmar a cidade de Roma, como se estivessemos em Nova Iorque, pode-se falar em Woody Allen (Manhattan). “Alguns críticos e o público apontam semelhanças [a Woody Allen e Nanni Moretti], mas se existem foram totalmente inconscientes“, explica-nos Phaim, o qual começou a sua “carreira” como um “Youtuber de pouco sucesso” e que só começou a vingar quando “produziu videoclipes e algumas curtas“.

E se muitos dos elementos em torno da sua personagem são autobiográficos, a relação amorosa no filme entre Phaim e Asia é totalmente ficcional: “É tudo inventado, ficção, tirando um ou outro detalhe pessoal“. O mesmo já não se passa com aquela estranha personagem que praticamente vive num parque: “Esse é inspirado num amigo meu, daqueles que parece que está a vender droga porque não larga o parque, mas não faz nada disso.

Envolvido na produção de uma série para uma plataforma online“, Phaim pode voltar novamente a um registo autobigráfico, isto se avançar a ideia de um projeto que tem com um seu conhecido. Mas até lá vai desfrutar deste Bangla, uma comédia romântica a 100%, facilmente exportável muito à conta da universalidade da sua história.

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