Segunda-feira, 20 Maio

Entrevista a James Watkins – Realizador de “Eden Lake”

Estreia no próximo dia 2 de Abril um dos filmes sensação do passado Fantasporto: o thriller britânico ‘Eden Lake: Lago Perfeito’. O C7nema teve um “chat” com o realizador do filme, James Watkins.

Um casal de apaixonados sai no seu “jeep” da grande cidade em direcção à Nova Inglaterra, um zona pacata e muito florestada do Reino Unido, para passar um fim-de-semana romântico. Steve leva Jenny a acampar na margem do Eden Lake, um lago idílico dentro de uma reserva natural. O seu plano é pedir a mão de Jenny em casamento.

Os problemas começam quando eles são abordados e importunados por um grupo de adolescentes, vários rapazes e uma rapariga, de uma vila próxima. Vestidos de tactel, com correntes de ouro, um rádio a tocar ‘trance’ e telemóveis de terceira geração, este grupo de jovens aterroriza os outros jovens da região e não hesita a importunar o casalinho.
Irritados, Steve e Jenny vão à vila, onde descobrem um interior miserável e violento: pais que batem nos filhos, filhos que passam o dia a bater uns nos outros e a destruir coisas.
Quando voltam à reserva natural, o ‘jeep’ de Steve é roubado pelos jovens rufias. Mas o que parece uma brincadeira parva, vai escalando cada vez mais para a violência.

É nesta premissa que se baseia ‘Eden Lake’, um thriller emocionante que venceu prémios no British Independent Film Awards, no festival de Sitges e no Fantasporto 2009 (melhor realizador e actor).

O seu realizador é o britânico James Watkins, de 30 anos, que se estreou assim na realização após alguns créditos como argumentista (no brilhante thriller sobre os media ‘My Little Eye’ ou em ‘Gone’). É o director de segunda unidade da sequela de ‘The Descent’, um dos thrillers britânicos mais populares dos anos 2000. Um dos rumores que corre na internet é de que Watkins irá “dar o salto” para Hollywood e realizar ‘Methuselah’ da Warner.

O C7nema esteve online à conversa com ele.

Sobre o ‘Eden Lake’ e outros projectos


“Eden Lake” é uma abordagem interessante sobre o género do ‘survival horror’ e do terror passado no interior. O facto dos vilões serem bullies adolescentes é verdadeiramente perturbador e actual. O que o motivou para escreveu um conto tão obscuro sobre o fenómeno do bullying?

Não houve uma inspiração em específico, mais um sentido que havia um interessante conflito entre gerações, uma bomba-relógio baseado nos adultos terem passado a temer as crianças, e de que a violência é baseada em ciclos. Tudo isto pareceu-me material muito bom para ser explorado num thriller.
Não sou um político nem um sociólogo, apenas queira fazer um filme assustador. Tendo frisado isto, eu penso que o medo de crianças existe – quer racional quer irracional. Penso que é muito interessante dramatizar e explorar esse medo e deixar as pessoas discutirem e debaterem se ele é válido.

No final ficamos com a sensação que os pais são os culpados por toda a violência gerada pelas crianças. Pensas que o problema do ‘bullying’ começa em casa?

Não gosto muito de editorializar o meu filme: penso que ele deve falar por ele próprio. Por exemplo, gosto das diferentes interpretações que as pessoas fazem da expressão que o Brett faz no final ao espelho.
Mas sim, eu acredito que violência gera mais violência. Tentei garantir que a violência no filme era apresenta de maneira dura e punitiva, e não de forma “glamourosa”.


Quais são as tuas principais influências como realizador?

Não sei se estou sempre consciente das minhas influências. Penso que se está conscientemente influenciado, então isso sim é uma coisa perigosa e negativa. No final, penso que é como diz o Bob Dylan: “tu és aquilo que comes”. Portanto sou inspirado por todos os filmes que vi, pelos livros que li, e por todas as artes em torno de mim. E também pelas minhas experiências.

Qual é a tua posição em relação a ‘remakes’ de clássicos do cinema de terror, nomeadamente de títulos do ‘Survival Horror’?

Prefiro os originais.

 
Ficaste feliz com a vitoria do britânico ‘Slumdog Millionaire’ nos Oscares?

 Fiquei muito feliz com a vitória do ‘Slumdog’ nos Óscares. Foi produzido pelo Christian (Colson), produtor do ‘Eden Lake’. Nós costumamos gozar com ele acerca de ter produzido o filme mais ‘feel-good’ e o mais ‘feel-bad’ do ano!

 

Estás agora envolvido em ‘The Descent: Part 2’ como director de segunda unidade e argumentista. Como foi voltar a trabalhar num filme onde não és o realizador? Que podemos esperar do filme?

Correu tudo muito bem, pois o realizador do ‘D2’ (Jon Harris) foi o editor do ‘Eden Lake’ e nós temos uma genuína colaboração criativa. Do filme, podem esperar muitos sustos, tensão e suspense. Uma verdadeira “thrill-ride”.

‘Eden Lake’ e ‘The Descent: Part 2’ (ambos escritos por ti) abordam o tema do terror no interior de Inglaterra. É um medo pessoal?

Eu penso que os filmes de terror funcionam melhor quando abordam medos universais. Quer eles sejam o medo do escuro, o medo da juventude ou o medo do mar.

Planeias voltar a realizar, tens algum projecto em mente?

Sim, planeio. Tenho vários projectos “no grelhador”, mas não tenho ainda a certeza do que vai acontecer.


Sobre o C7nema, o Fantas e Portugal

 

O C7nema é um site de cinema português. Conheces o cinema português?

Não conheço o cinema português. Na realidade, o que melhor conheço de cinema relacionado com Portugal é o Cinema Novo (distribuidora de filmes do Fantasporto). Sempre que me sinto cansado e farto do meu meio, procuro na sua grande “livraria” de filmes novas correntes de cinema que existem por esse mundo fora. Tem uma oferta refrescante.

O Fantasporto é o maior festival de cinema português. Qual é a projecção que tem no Reino Unido? Qual foi a sensação de vencer o prémio de melhor realizador por ‘Eden Lake’?

O Fantasporto acaba por ser bastante conhecido pela sua rica herança de filmes vencedores. É um festival que já tinha ouvido falar e que não passa ao lado de quem trabalha em cinema. Fiquei muito feliz com o reconhecimento que me foi dado, foi uma grande honra.

O realizador português mais conhecido internacionalmente é Manoel de Oliveira.

Conheço-o por reputação, e pelo facto de ainda trabalhar nos dias de hoje apesar dos seus 100 anos. Mas o seu trabalho não é fácil de encontrar no Reino Unido, não o conheço.

Qual é a tua posição relativamente a sites dedicados ao cinema como, por exemplo, o C7nema?

 Eu penso que a imprensa da Web é um poder em crescimento e imparável. Adoro a forma como permite aos fãs de cinema fugir a todo o “hype” criado pelos meios de comunicação tradicionais e ter acesso “não-mediatizado” ao cinema: quer seja a opiniões e críticas frescas, quer sejam a filmes que de outro modo desconheceriam.

Entrevista conduzida por
José Pedro Lopes

 

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