Sexta-feira, 17 Maio

Peter Brunner: de “Luzifer” com Franz Rogowski a nova colaboração com Caleb Landry Jones

Depois de trabalharem juntos em “To The Night”, o realizador Peter Brunner e o ator Caleb Landry Jones vão colaborar num novo projeto, o qual a IMDB apelida de “Down the Arm of God”. 

Acabei de escrever um guião com a ajuda do Caleb Landry Jones, que é um ator que adoro, e espero começar os trabalhos em outubro ou novembro”, disse Peter Brunner ao C7nema em entrevista. “É um filme sobre um jovem pastor religioso que toma conta de jovens”.

Caleb Landry Jones em “To the Night

Atualmente no Festival de Locarno na competição internacional com  “Luzifer”, Brunner vai mais uma vez colocar mostrar um trabalho onde o realismo social será minado por artifícios poéticos, partindo de “pessoas reais que colidem com personagens fictícios”. 

Inspirado na verdadeira história de um exorcismo, em “Luzifer” seguimos Johannes, um homem com coração de criança que vive isolado numa cabana alpina com a sua mãe. A vida diária é governada por orações e rituais, mas, de repente,  a modernidade – na forma de um empreendimento turístico, de drones invasivos e outros mecanismos  – intromete-se no seu mundo de natureza e adoração divina, agindo como uma espécie de “demónio”. 

Franz Rogowski é o protagonista, entregando uma prestação memorável ao lado de Susanne Jensen, uma não-atriz que se revela uma verdadeira força da natureza. “Temos várias opções para o que é o mal aqui. Será o mal uma coisa própria? Ou será algo dentro de nós? Talvez sejam os nossos próprios medos esse mal, esses demónios.“, explicou-nos o ator que surgiu nas nossas salas em “Undine” de Christian Petzold, e  mais recentemente em Cannes em “Great Freedom” de Sebastian Meise. 

Franz Rogowski em “Luzifer”

O mal é apenas uma forma de categorização individual. A forma como a mãe, no filme, imprime a sua influência na sociabilidade do filho é através de histórias com o intuito de protegê-lo. Algo que ela diz e que soa a esse “mal,  a esse demónio” na sua narração está ali para proteger o filho. O próprio nome Luzifer leva algumas pessoas a fazerem uma conexão demoníaca. E a própria força geológica da paisagem [neste filme e não só]  leva-nos a uma força oculta nela. (…) Claro que há uma ameaça, há algo que nos movimenta e queria que  o espectador pensasse nela.  Tentamos ser leais à história, às personagens e se há coisas que influem neste mundo que vivemos, então essas coisas [invisíveis] podem também apenas fazer parte deste mundo. Coisas como a digitalização, as máquinas e o neoliberalismo”, acrescenta o cineasta, explicando-nos também o prazer que teve em contar com a produção do aclamado Ulrich Seidl: “O Ulrich Seidl é um cineasta que conscientemente decide ser desafiante no seu cinema e como produtor é leal para com as pessoas com que trabalha. Mas não interfere criativamente.  Se olhares para o meu filme, estilisticamente existe um ponto de contacto com o seu cinema, claro, mas ele não é do tipo de me dizer ‘faz isto ou aquilo’. Espero que voltemos a trabalhar juntos no meu próximo filme e estou muito agradado com esta colaboração.

Luzifer” é um dos mais fortes candidatos ao Leopardo de Ouro no Festival de Locarno.

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