Quarta-feira, 8 Maio

A Ilha da Fantasia: versão macabra esquece-se de assustar

Versão macabra da Ilha da Fantasia descamba em final trapalhão

Entre 1978 e 1984, a série de televisão Fantasy Island (A Ilha da Fantasia) ficou famosa perante o público pela sua premissa: numa ilha paradisíaca, qualquer desejo podia ser realizado. O anfitrião dessa ilha era o senhor Roarke (Ricardo Montalban), que juntamente com seu auxiliar, o inesquecível Tattoo (Hervé Villechaize), providenciava aos visitantes os seus sonhos.

Décadas depois, a Ilha da Fantasia ganha uma versão macabra, oriunda da rainha dos filmes de terror de baixo orçamento, a Blumhouse, que por mais que coloque realizadores a assinarem os projetos, deixa sempre a clara sensação que o que vimos é pura e simplesmente um reflexo da imagem do produtor que dá nome a empresa: Jason Blum.

Se em O Senhor dos Desejos (1997) um dos piores génios do mal, conhecido como Djinn, retorcia os sonhos (desejos) e entregava pesadelos, por aqui o senhor Roarke faz o mesmo a um grupo de visitantes que chega ao local. Temos assim uma mulher (Maggie Q em boa forma) que quer corrigir o passado e aceitar um pedido de casamento que negou anos atrás; um par de irmãos (Ryan Hansen e Jimmy O. Yang) que se quer divertir no meio de modelos em jeito Project X; uma jovem (Lucy Hale) que procura vingar-se da bully do liceu (Portia Doubleday); e um polícia (Austin Stowell) que quer cumprir o sonho de ser militar.

O filme prossegue como se fosse uma antologia com quatro contos individuais, com cada uma das histórias a seguir os códigos dos subgéneros dentro do horror, como a chegada de vilões mascarados que parecem sair de qualquer filme de cerco; de serial killers tortuosos que nos remetem a slashers entre Halloween e Saw (onde o início do filme parece o de qualquer da saga Scream); a presença física de pessoas já falecidas (toque fantasmagórico); e finalmente retrocessos temporais que revelam traumas e sentimentos de culpa.

Todos estes elementos e histórias, entregues inicialmente de forma individual e eficaz, vão-se cruzar e atropelar no último ato, transformando toda a experiência num verdadeiro exercício de terror inábil e estapafúrdio, levando-nos frequentemente a questionar se vale mesmo a pena dar prioridade à imprevisibilidade (com reviravoltas atrás de reviravoltas), sacrificando com isso qualquer credibilidade que apelaria certamente a mais terror e sugestão.

E qual é o pior pesadelo de um filme de terror? É a incapacidade de assustar e nos fazer temer pelas personagens. Em A Ilha da Fantasia, tudo isso acontece


Jorge Pereira

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