Sábado, 11 Maio

«Skin – História Proibida» por Ilana Oliveira

Skin não é um filme transgressor, nem faz parte daquele seleto grupo onde estão filmes originais, inovadores, ou seja, “vistos pela primeira vez”. Como referência para retratos de supremacistas brancos nos Estados Unidos, temos American History X, por exemplo, muito mais violento e gráfico, com certeza, mas também muito mais conseguido.

Dentro das referências mais “conseguidas” estão inclusivamente a obra inicial que motiva o feitio de Skin, a curta-metragem homónima, realizada e escrita pelo mesmo Guy Nattiv e vencedora de um Oscar na sua categoria. São diversas as citações que a longa metragem cria baseada no primogénito e algumas delas sabiamente subvertidas. 

Nattiv altera a essência da sua personagem principal, a fim de dar-lhe mais humanidade e para aproximar-se da história verídica em quese baseia. Bryon Widner é interpretado por Jamie Bell, naquele que pode ser o trabalho que finalmente o coloca na indústria mainstream, que tanto o ignorou desde Billy Elliot. Temos em Widner a imagem do agressor arrependido, o supremacista convertido, mas Nattiv esquece-se de construir um ponto de viragem. Deixar velhos hábitos apreendidos desde a infância não é uma tarefa fácil para ninguém, muito menos para aqueles que foram ensinados toda a vida de que tais hábitos eram aceitáveis em qualquer esfera.

Desde o primeiro terço do filme que temos relances do Widner do futuro, num doloroso processo de transformação, o que retira ainda mais a validade da sua decisão e o processoOutras personagens têm mais sucesso, por outro lado, como Julie Price, interpretada pela mesma atriz presente na curta-metragem, Danielle Macdonald. A capacidade de Nattiv em transmitir a sua capacidade de concisão, visto no primeiro Skin, aqui sacia toda a sede que tínhamos por ver mais da personagem. 

As muitas outras personagens, numa trama relativamente inchada pela sua presença, têm, entretanto, cada um o seu momento para brilhar, felizmente. Entre os notórios estão Bill Camp, Vera Farmiga e a iniciante Colbi Gannett, que faz muito mais do que qualquer uma das outras irmãs. 

Todos os principais factores da curta-metragem estão aqui vincados, claramente revisitados e adaptados. O que falta mesmo a esta longa metragem é o controle do realizador sobre a sua obra, que perde-se no caminho do sucesso alcançado. Mesmo assim, Bell e a equipa de protagonistas dão fôlego a um filme importante socialmente, mas que dificilmente será assistido por aqueles que necessitam aprender a sua mensagem.


Ilana Oliveira

 

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