Quarta-feira, 8 Maio

«The Silence» (Silêncio de Morte) por Jorge Pereira

Há um momento delicioso neste Silêncio de Morte, um indeciso thriller de horror série B, lançado pela Netflix no passado dia 10 de abril. A personagem de Stanley Tucci liga uma barulhenta debulhadora e criaturas famintas que reagem ao som, neste mundo em pleno apocalipse, são atraídas a essa máquina e são dizimadas em catadupa. Este momento puramente “camp” mostra que a grande salvação da humanidade neste mundo pode ser um exército de agricultores e as suas debulhadoras.

Este momento cómico e lúcido de Tucci não serve apenas de solução para este mundo, como também para o de Um Lugar Silencioso, filme do ano passado que fez furor e cuja premissa é semelhante. Tal como aí, uma família (onde um dos elementos tem surdez) tem de lidar com criaturas que  começam a atacar tudo o que ouvem. A diferença é que este acompanha o antes e o durante o apocalipse, e no filme de John Krasinski ele já aconteceu e seguimos “os restos” da humanidade. Mas se a história é semelhante a esso obra de 2018, o seu modelo é mais na linhagem Bird Box (Às cegas), com a família em fuga da cidade para o campo e a ter de enfrentar inúmeros perigos nessa jornada.

É importante referir algo extremamente importante, pois grande parte do público tem considerado este Silêncio de Morte um plágio ou uma mera mistura destes dois filmes recentes citados. Que se perceba que nenhum desses dois era inovador na premissa e criaturas esfomeadas que caçam humanos e que nos privam dos sentidos (visão ou audição) existem há décadas na literatura, TV e 7ª arte. Na verdade, neste subgénero do horror já vimos quase de tudo e basta lembrar Tremors, A Descida (também tinham criaturas “cegas” que reagiam ao som), Alien ou Predador. E até podíamos ir até aos loucos anos 50 (formigas e lagartos nucleares) para encontrar referências. 

O verdadeiro grande problema deste série B, que provavelmente faria delícias nos videoclubes dos anos 80 e 90, é a sua indecisão e a visita frequentemente aos lugares comuns de todo um género, onde não falta a típica cena entre a tensão e o macabro num supermercado. Não conseguindo criar uma real empatia familiar e uma atmosfera de verdeiro pânico e terror (como qualquer outro dos filmes mencionados), Silêncio de Morte ganha apenas o rótulo de “mais um”.

E mesmo nos tais momentos descomplexadamente “Camp”, como a já citada cena da debulhadora ou até quando se transforma em filme de “cerco”, com uma seita à mistura, na maioria do seu tempo, o filme de John R. Leonetti (de Annabelle) quer ser levado demasiado a sério, assumindo-se como um verdadeiro drama familiar e uma história de sobrevivência sem ter verdadeiramente algo único para mostrar. E é nisso precisamente que falha, pois se Tucci tem carisma para dar e vender, o resto do elenco não o acompanha, incluindo a jovem Kiernan Shipka, aqui entregue a um papel muito pouco espesso de uma jovem que ficou surda após um acidente.

No melhor, Silêncio de Morte é ocasionalmente divertido e não tem medo de sujar as mãos com momentos de puro gore, especialmente quando estes parentes das criaturas de Gremlins, Alien e Eclipse Mortal começam a morder tudo o que ouvem, bebés e cães incluídos na ementa, mas é muito pouco para se recomendar o visionamento. 


Jorge Pereira 

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