Segunda-feira, 13 Maio

«Take this Waltz» (Notas de Amor) por Carla Calheiros

Mais vocacionado para o lado de drama romântico do que para a comédia, “Notas de Amor” é a segunda longa-metragem realizada pela atriz Sarah Polley, e embora em grande parte da sua ação seja um filme de inquestionável beleza, acabou por me deixar com um misto de sensações. Michelle Williams e Seth Rogen são Margot e Lou, um improvável casal à primeira vista, que surpreendentemente acaba por funcionar em cena. No entanto, o seu casamento parece ter passado a fase do desejo e da paixão, e vive sobretudo de cumplicidade e companheirismo. 
 
E é assim que, enquanto Lou se submerge em novas receitas de frango, das quais está a escrever um livro, que Margot se vai encantando pelo vizinho da frente, um belo aspirante a pintor que ganha a vida a conduzir um riquexó. Embora muitas vezes a história nos vá parecendo inverosímil, Polley consegue dar um retrato muito interessante do interior do casamento, com algumas cenas repetidas que nos vão mostrando as rotinas do casal. 
 
Não é por ai que o filme peca, mas por vezes, a necessidade de criar imagens estéticas e poéticas acaba por ser exagerada e criar cenas de inquestionável beleza, mas que estão ali por estar. No meio da delicadeza visual, Polley acaba por arriscar em duas sequências: a primeira é uma cena de chuveiro de uma piscina, em que diversas mulheres conversam sobre diversos aspetos da vida. A cena é natural mas os corpos desnudados chegam a roçar o constrangedor. A outra mais ousada, chega mais para o final do filme, mas mesmo que a intenção seja louvável e nos ajude a entender as personagens, quebra bastante o tom delicado que nos foi imposto até então. 
 
Com isto, o principal destaque acaba por ir para Michelle Williams, uma mulher jovem, mas enfadada – nem ela sabe muito bem com o quê. A sua personagem acaba por não ser de fácil empatia, sobretudo porque Seth Rogen é um marido encantador. Mas Williams no meio da agonia da indecisão acaba por traçar um retrato tão doce que todos acabamos a torcer por ela. Mais cotado com comédias, Rogen também aparece suficientemente convincente no seu papel quer na vertente cómica, quer nas partes mais dramáticas.
 
Por isso, “Notas de Amor” no geral acaba por ser um filme belo e delicado, bem escrito, realizado e interpretado, mas que acaba por exagerar nas suas intenções. Duas notas finais: a banda sonora é bastante boa e os vizinhos de Lou e Margot são emigrantes açorianos que exibem uma bandeira nacional no alpendre, e até é possível ouvi-los como fundo de uma das cenas do casal. 
 
O melhor: Michelle Williams
O pior: Tem pelo menos mais vinte minutos do que devia
 
 
 Carla Calheiros
 

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