Terça-feira, 7 Maio

“Amália, o filme” por André Reis

 

Anunciado como sendo “La Môme” Português, o primeiro filme da VC Filmes retrata a vida e a obra da senhora que levou o nome de Portugal além fronteiras. Desde a infância difícil até ao Olympia de Paris, Amália conheceu gente, amou e muitas vezes sofreu. Este filme retrata a sua vida até ao momento em que, perdida no seu quarto de hotel em Nova-Yorque,  pensa no pior…

Tudo se anuncia muito positivo para os produtores já que o filme tem estreia marcada para mais 20 países e, em Portugal, será uma das maiores estreias de sempre.

Amália é mais do que uma simples cantora de fado. Para muitos, representa a alma musical do País e é ainda hoje motivo de orgulho além fronteiras. No entanto, o filme alonga-se em demasia, havendo partes em que a estrutura do filme é deficiente, com uns constantes vai-vem entre o presente (da história) e o passado. Essa construção narrativa retira impacto emocional à personagem e acabamos por nunca verdadeiramente sentir a Amália a beira do precipício.

Mas não é só na montagem e no argumento que Amália falha. A realização (a cargo de Carlos Coelho da Silva, realizador do “Crime do Padre Amaro”) é em muitos aspectos televisiva e dificilmente capta a atenção, mantendo-se no razoável mas abaixo do esperado. Os planos esteticamente interessantes ou belos são raros, não por culpa da direcção de arte, que soube transformar Lisboa de forma adequada.

O elenco, no entanto, é onde se verifica a maior discrepância, onde o melhor se mistura com o pior. A personagem de José Fidalgo mostra-se pobre, bem como o sotaque brasileiro volátil de Ricardo Carriço. No entanto, não haja dúvidas do que Sandra Barata foi uma escolha acertada. Cheia de energia e de uma beleza delicada, Sandra Barata consegue cativar o espectador.

Numa outra nota negativa, o som volta a falhar, como em muitos filmes portugueses. As dobragens não passam despercebidas e, relativamente à maquilhagem, subsistem também grandes dúvidas quanto à sua qualidade. Em suma, o filme está longe da meta pretendida, que era aproximar-se do trabalho efectuado em Marion Cotillart para “La Môme”.

“Amália” está longe de ser o filme que muitos esperavam. O filme, demasiado centrado na vida sentimental de Amália, tem poucos pontos de verdadeiro interesse. Se a isso, juntarmos um elenco débil e uma componente técnica deficiente, dificilmente o filme vai de encontro às expectativas. Mas, e apesar disso tudo, acreditamos que os espectadores sairão satisfeitos. É preciso lembrar que também se faz cinema em Portugal. Este filme servirá também para mostrar que estamos dispostos a apostar em coisas diferentes e a sairmos um pouco dos estigmas cinematográficos que nos definem.

Esperemos então que a VC Filmes continue em apostar no cinema nacional e que Sandra Barata prolongue as suas experiências cinematográficas.

5/10

 

 

André Reis

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