Quinta-feira, 9 Maio

“Sasquatch Sunset” afoga-se na escatologia

Enquadrados numa espécie de segunda divisão do cinema indie, o ator David Zellner e seu irmão mais novo, Nathan (um artesão de efeitos visuais), arriscam-se desde o fim dos anos 1990, com “Plastic Utopia” (1997), na proposta de um tipo de comédia de costumes capaz de refletir neuroses históricas da América.

Tiveram um momento de graduarem suas carreiras com “Damsel” (2018), apoiados numa reinvenção da persona sorumbática de Robert Pattinson, dando-lhe um tom jocoso. No entanto, o resultado do filme, exibido em concurso na Berlinale, desapontou a crítica e – como já é de costume na trajetória da dupla – as redes de salas de exibição. Não lhes faltam boas ideias, nem um acurado senso político capaz de entender os caprichos da sociedade norte-americana e suas onipotências.

O modo de sublimarem esse american way of leaving (the world behind) é um humor na linha da crônica. Não por acaso é o próprio Festival de Berlim que vem acolher a nova e mais ambiciosa película dos Zellner: o tratado ecológico “Sasquatch Sunset”. É uma narrativa carregada de todas as premissas sagazes desse par de cineastas, mas coberta, por outro lado (o lado mais chamativo) das fraquezas habituais deles.

Michael Gioulakis assina a insossa fotografia, apolínea em demasia, que faz lembrar um documentário da série de programas National Geographic (da fase dos anos 1990), ou seja, é trivial como um produto de televisão padronizado. O elenco principal promete encantamento: há Riley Keough e Jesse Eisenberg no ataque; Christophe Zajac-Denek na zaga; e o próprio Nathan Zellner na defesa. Não há muito como reconhece-los sem maior esforço, pois estão todos fantasiados de sasquatches.

A história, escrita pelos Zellner, assemelha-se a um episódio de “Os Simpsons” – isto é, o retrato de uma família de classe média -, só que com criaturas místicas. É uma provocação proativa, regada a uma inquietude ambientalista. Mas o que se aguarda de bonança descamba numa tempestade (de soluções dramatúrgicas confusas).

No guião, o excesso de escatologia, nos dois terços iniciais, dilui a hipótese de um riso maduro. É flatulência demais, fluidos demais, nojeira demais. A discussão sobre ecologia, que calça essas “piadas” quase pueris, acaba assumindo um tom áspero demais para a serenidade que a direção almeja. O que se vê é a jornada de sobrevivência do tal clã de sasquatches que vive a correr atrás de alimentos, tentando conter os próprios hormônios, a se safarem de ataques de felinos famintos. O dispositivo utilizado é o de uma aventura (supostamente) brincalhona espalhada por quatro estações de um ano qualquer.



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Rodrigo Fonseca

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