Cronologicamente inserido logo após aquele que continuo a considerar um dos melhores exemplares do Universo Cinemático Marvel – “Capitão América: Guerra Civil” – “Viúva Negra” dá à sua personagem principal, Natasha Romanova, aquilo que falhou em “Capitã Marvel”: um verdadeiro retrato de poder no feminino que se sente orgânico, verdadeiramente abrangente e alegórico, e não meramente um jogo de marketing mascarado de ativismo.

Longe de ser uma “origin story“, mas também visitando os tempos da jovem Natasha, Cate Shortland – responsável pelo maravilhoso “Summersault” e “Lore” – consegue de forma dinâmica entrar no aparente mundo da protagonista, das suas relações “familiares”, isto enquanto entrega um filme com mais fanfarra, ritmo e espetacularidade que os últimos exemplares deste universo conseguiram, com “Avengers: Endgame“, por exemplo, e o já citado “Capitã Marvel“, a ficarem bem abaixo do seu verdadeiro potencial.

Por outro lado, se já conhecemos as capacidades dramáticas de Scarlett Johansen como atriz de cinema de ação (pense-se em “Lucy”, por exemplo), a grande dúvida era como Florence Pugh (“Lady Macbeth“) iria entrar no MCU e desenvencilhar-se quando todos os holofotes pareciam apontar para Natasha. Bem, a verdade é que a atriz britânica supera qualquer expectativa, não só vingando como heroína de ação, mas principalmente como elemento que contribui para um tipo de comédia muito particular, sem ser um mero sidekick, fazendo ainda a ponte dramática entre Natasha e a “família”, aqui comandada por um David Harbour no seu melhor papel até hoje e uma Rachel Weisz a revelar a eficácia e força habituais.

No mais, “Black Widow” é bem equilibrado na intensidade, ritmo e desenvoltura da narrativa, misturando a fanfarra habitual que a Marvel nos habituou mas desta vez com uma maior simplicidade no seu mergulho emocional por uma existência movida a mentiras na história da vida das nossas figuras centrais.

Uma nota curta e final para o vilão, interpretado por Ray Winstone, que agarra o papel com o charme e eficácia dos “mauzões” de James Bond ainda na Guerra Fria, franquia onde Shortland parece ter ido buscar inspiração desde os créditos iniciais (aquela versão suave de “Smells like a teen spirit“) e o arranjo visual. Talvez o pior momento seja mesmo a já famosa cena pós-créditos, tão superficial e aborrecida que só serve para vender produtos para o pequeno ecrã. 

Pontuação Geral
Jorge Pereira Rosa
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