Sábado, 27 Abril

Adeus António-Pedro Vasconcelos (1939-2024)

Morreu, aos 84 anos, o cineasta português António-Pedro Vasconcelos, responsável por alguns dos maiores sucessos comerciais nas salas portuguesas.

Nascido em Leiria, a 10 de março de 1939, António Pedro Saraiva de Barros e Vasconcelos (APV) frequentou os cursos de Direito na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, e Filmografia na Universidade de Sorbonne. Foi em 1961 que partiu para Paris, como o primeiro bolseiro de cinema da Gulbenkian. “Fiquei lá dois anos e alguns meses – só vinha cá nas férias e no Natal. E o que eu quis fazer neste período, fundamentalmente, foi ver filmes. Era uma época extraordinária, foi a época que surgiu o novo cinema francês, a Nouvelle Vague. Um pouco por todo lado havia novidades, a renovação do cinema inglês, uma nova geração de cineastas italianos e, portanto, eu segui essa nova onda de cineastas“, disse o cineasta ao C7nema, numa grande entrevista em 2014.

Os seus primeiros filmes, “Perdido por Cem” (1973) e “Oxalá” (1980), foram fortemente influenciados pela Nouvelle Vague, alcançando nos seguintes o sucesso comercial, particularmente com “O Lugar do Morto” (1984), mas também com “Jaime” (1999). Realizador de “Os Imortais” (2003), “Call Girl” (2007) e “A Bela e o Paparazzo” (2010), APV sempre foi muito crítico da forma como os subsídios estatais eram atribuídos ao cinema que se faz em Portugal, falando ao C7nema mesmo em lobbies. “Não acho que o Estado tem que ser o polícia do gosto. Não têm que ser eles a decidir quem filma e quem não o faz. E a maior parte dos cineastas defende que sim e acomodou-se a isso, razão pela qual são feitos filmes baseados em critérios que ninguém entende. Existem lobbies junto dos júris que decidem quem receberá recursos para trabalhar“.

Quando foi premiado por “Parque Mayer” (2017) pela Academia Portuguesa de Cinema, o tom da crítica expandiu-se, falando do caso de um dos maiores nomes da produção nacional com quem trabalhara no passado: “Gostaria de dedicar este prémio a um grande senhor sem o qual o Cinema Português nunca tinha existido, e que está por trás de tudo o que se fez em Portugal e de tudo o que não se fez, mas que tentou fazer. Um grande senhor chamado António da Cunha Teles. (..) Vocês não acreditam, vocês podem não acreditar, mas tudo o que se fez em Portugal [em termos de cinema] deve-se a este senhor. E também a muito do que não se fez, pois não o deixaram fazer, como produtor, realizador, homem de ideias, inclusivamente à frente do ICA – foi o melhor diretor do IPC (Instituto Português do Cinema). Há 12 ou 13 anos que não o deixam filmar. Revolta-me. Não posso fazer nada a não ser dar-lhe o meu apoio, mas revolta-me. Tal como me revolta que os mais jovens, os mais talentosos não conseguem filmar.”

Vencedor dos Prémios Sophia com “Os Gatos Não Têm Vertigens” e “Amor Impossível” (2015), o realizador teve como última obra o filme “KM 224“, também exibido como minissérie televisiva.

Benfiquista assumido, APV foi igualmente produtor de cinema, tendo sido um dos fundadores da V.O. Filmes, Opus Filmes e da cooperativa Centro Português de Cinema, além de professor na Escola de Cinema do Conservatório Nacional, e coordenador da licenciatura em Cinema, Televisão e Cinema Publicitário da Universidade Moderna de Lisboa.

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