Sexta-feira, 26 Abril

Agnès Jaoui e a estética da palavra em «Praça Pública»

Campeões de bilheteiras, indicados a um Oscar e queridos pela crítica europeia, a atriz, autora teatral e cineasta francesa Agnès Jaoui e o seu parceiro (e ex-marido), o ator e argumentista Jean-Pierre Bacri, têm um novo filme para lançar, Place publique (Praça Pública), que estreia só em julho em Portugal. Mas, com novidade em mãos, eles não poderiam ficar de fora do Rendez-vous Avec Le Cinéma Français, cuja edição de 2019, começa hoje em Paris.

A festa anual do cinema francês, feita sob a batuta da Unifrance, vai de 17 a 21 de janeiro: emissários de 75 filmes vão passar pelas ruas parisienses, batendo ponto no Le Collectionneur, para uma conversa com 120 jornalistas de 32 países, revelando as tendências que hão de mobilizar espectadores no planisfério cinéfilo.

Na abertura, esta noite, vai ter projeção de gala da comédia Qu’est-ce qu’on a encore fait au bon Dieu?, de Philippe de Chauveron, continuação do fenómeno popular Que mal eu fiz a Deus? (visto por 12 milhões de pagantes em 2014). Vai ter ainda a entrega de um prémio honorário para a dupla de cineastas Olivier Nakache e Éric Toledano, de Amigos Improváveis (2011), um ímã de pagantes, com 19 milhões de bilhetes vendidos. E, já na tarde de sexta, é dia de Agnès e Bacri falarem da sua estética palavrosa… e saborosa.

Não esperávamos que um dia o nosso cinema, feito com uma experiência que trazemos do teatro, pudesse chegar a Hollywood e a países de línguas distintas do francês“, contou Agnès ao C7nema, em uma de suas passagens no Brasil, onde teve peças de sua autoria encenadas por elenco do Rio de Janeiro. “O nosso foco são as relações humanas e os sentimentos nobres e medíocres que as assombram“.

Tocados de maneira irretrocedível (e lúdica) por On connaît la chanson (É Sempre a Mesma Cantiga), mítico filme de Alain Resnais de 1997 (Amores parisienses, no Brasil), Agnès e Bacri andam construindo, juntos, uma obra cómica focada na importância que as aparências têm para as relações burguesas, profissionais ou afetivas. “O gosto dos outros“, um fenómeno de bilhetiras em França em 2000, com cerca de 5,2 milhões de bilhetes vendidos, rendeu à dupla uma indicação ao Oscar de melhor filme estrangeiro. O trabalho seguinte, Olhem para Mim (2004), deu-lhes o prémio de melhor argumento em Cannes. Cada longa-metragem, com Agnès sempre na direção, vem refinando o humor (e a melancolia) deles, afinado o modo como a realizadora – regressa do teatro, onde também é dramaturga – domina os códigos narrativos e os processos técnicos específicos dos sets de cinema. É o que salta aos olhos neste novo trabalho dela e de Bacri, Place publique, visto por 380 mil pagantes em sua estreia em seu país.

Traduzido no Brasil literalmente como Praça pública, esta comédia de temperos azedos passa-se basicamente num só local, a casa de luxo da produtora de TV Nathalie (Léa Drucker). O local vira um circo para o show de horrores que traduz a decadência moral e emocional do apresentador de televisão Castro (Bacri, em excepcional atuação), cuja arrogância derrubou a sua glória. Uma ciranda de figuras excêntricas – mas de uma excentricidade polida, aburguesada – desfilam na festa, traduzindo o que existe de fútil na cultura das celebridades. Agnès brilha em cena como Hélène, a ex-companheira de Castro, que vê na alegria um caminho para cicatrizar suas feridas. Ela ilumina o filme, que aposta na simplicidade visual e no charme de boas atuações – calçado numa montagem que sustenta o ritmo ao explorar diferentes assoalhadas do local.

Até segunda-feira, vão passar pelo Rende-vous da Unifrance potenciais êxitos de público em escopo global como High life, de Claire Denis; L’empereur de Paris, de Jean-François Richet; e Grâce à Dieu, de François Ozon.

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