Quarta-feira, 8 Maio

«América» por João Miranda

«América» é o primeiro filme de João Nuno Pinto e o último de Raúl Solnado. Premiado na Bulgária pela sua realização, é um bom primeiro filme de um realizador que, com pouco mais de quarenta anos, começou na publicidade. A história de um grupo de pequenos criminosos que resolve entrar no esquema de falsificar papéis para legalizar imigrantes, com um casal com dificuldades amorosas no centro, o filme assume, apesar do tom sombrio da palete, um tom rocambolesco.
Infelizmente, apesar da preocupação estética, o filme torna-se muito pesado e cansativo, com uma palete tão limitada e escura. Para além disso, a história está cheia de clichés e buracos, percebendo-se a história de Liza, russa casada com um português, pelas primeiras imagens que se vêem dela, banda sonora incluída. Há elementos em excesso, sendo quebrada a regra da arma de Chekhov, aparecendo uma arma que é esquecida no resto do filme, e incoerências, como um carro que desaparece e aparece conforme é conveniente à história. 
Por cima das falhas da história, há o aborrecido fascínio burguês pela criminalidade, que enche de forma constante o cinema português na personagem do pequeno criminoso com os seus esquemas fáceis para ganhar dinheiro que correm invariavelmente mal e o erro constante de tratar a emigração como um problema local, não se enquadrando o problema num contexto económico global, o que impede de se percebê-lo e só serve para alimentar o cinema de uma série de “coitadinhos” que pouco mais servem do que para alimentar a culpa da classe-média que vai ao cinema.
É um bom primeiro filme, mas tem ainda de ser mais audaz, abandonar os lugares comuns do cinema actual português e dar um passo para lá disso. Esperamos pelo próximo filme de um realizador promissor.
O Melhor: Chulpan Khamatova, a actriz principal que sustenta o filme todo com a sua representação.
O Pior: Os clichés e os buracos na história.
A Base: É um bom primeiro filme, mas tem ainda de ser mais audaz. 4/10

João Miranda

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