Quinta-feira, 2 Maio

Sexo oral e Twerk: como Abdellatif Kechiche tem sempre uma palavra a dizer sobre provocação

Depois de Quentin Tarantino e o seu Era Uma Vez .. em Hollywood terem dissipado polémica em poucos dias, o sempre controverso Abdellatif Kechiche faz das suas com a segunda parte de Mektoub, Mon Amour.

Se o filme inaugural desta suposta trilogia teve a sua porção de acusações de misoginia e objetificação da mulher, para além do teor quase fetichista das cenas de sexo, durante a sua estreia em Veneza (2017), este Intermezzo foi recebido com ira por parte de vários jornalistas, levando muitos a sair da sala.

Kechiche regressa às suas quentes noites de verão, a praia que persistiu e muito em canto Uno é somente um prólogo, porque a folia, essa torna-se um estado de alma. As personagens que seguimos – Amin, Ophélie, Céline e outros – são inseridos numa reunião ao sabor do álcool e do ritmo do techno pop. A partir daqui, o filme segue uma tendência de montra: estes jovens divertem-se cada um à sua maneira tendo como companhia uma câmara “embriagada” que materializa o olhar harmonioso com faces.


Seguindo um dispositivo narrativo algo próximo de Juventude Inconsciente (Richard Linklater, 1993), Mektoub, Mon Amour perde-se por entre os focos do twerk e da dança de varão, ou dos peitos arrebitados e os traseiros das jovens. É um filme que cheira a sexo, aliás, uma noite dura de roer. Aqui entramos numa espiral que automaticamente foi desaprovada por muita desta imprensa: a atenção retida dos planos lascivos, a exploração dos corpos reféns do toque sensualizado e do desejo que se liberta através de shots e Abba. Em certo aspecto, não nos afastamos das milésimas gravações em discotecas, motivadas pela bebedeira. Kechiche faz com que estas longas cenas de dança (falamos de 3 horas) sirvam como experiência sensorial. Sentimos o cansaço de um direta … será esse o efeito desejado?

Mas o que enervou os jornalistas exatamente, foi aquilo que Kechiche faz de melhor – o seu voyeurismo. Se as críticas às cenas de sexo da A Vida De Adèle foram tantas, aqui a tendência é mais explícita. A cena em questão tem 12 minutos (assim cronometramos) e resume-se a sexo oral na casa de banho daquele espaço noturno. A explicitude dá nos a entender que o ato não é simulado, uma veracidade na luxúria. Como Brown Bunny de Vincent Gallo, esse “maldito” filme de Cannes, que demonstrou uma opositora cena de prazer oral, embora inserido num contexto dramático na narrativa, em Intermezzo, tal é gratuito, e escusado será dizer sem razão de existência para o desenvolvimento da intriga.

O sexo volta a ser destaque na Riviera Francesa, cinco anos depois de Gaspar Noé ter quebrado a fronteira da pornografia e do Cinema propriamente dito e aceite com o seu Love, Kechiche mostra que tem sempre uma palavra a dizer sobre provocação.

Notícias