Sexta-feira, 17 Maio

«Matar a un hombre» por João Miranda

Como dialogar com quem não o quer fazer? Quando Jorge é ameaçado e roubado pelos delinquentes locais, a sua família acusa-o de ser mole e passivo demais. Jorge é um homem calmo da classe média, diabético e não encaixa em modelos de masculinidade tradicionais, o que o transforma num alvo para estes delinquentes e numa desilusão para a família. Quando o seu filho, ao tentar recuperar parte do que foi roubado a Jorge, leva um tiro de Kalule, o líder dos marginais, este é preso, mas sente-se injustiçado, acusando Jorge e o filho de terem ido a sua casa. Dois anos mais tarde, já Jorge está separado da sua mulher, Kalule está de novo nas ruas e começa a ameaçar a família novamente, procurando vingar-se do tempo que esteve preso. Na zona cinzenta entre a ameaça e o acto e com os poucos recursos disponíveis, a polícia e a lei pouco podem fazer por eles. A violência parece ser a única acção disponível a Jorge, apesar da sua disposição mais pacífica. Será ele capaz de exercê-la ou de lidar com as suas consequências?

Matar a un Hombre é um filme que constrói, desde a primeira cena, ambientes ominosos, recorrendo mais à imagem e ao som do que à palavra. A economia da palavra é neste filme exemplar. Confrontando as acções de Jorge com as imagens tradicionais de masculinidade, Alejandro Férnandez Almendras, escritor e realizador do filme, consegue evitar grandes explicações sobre o que se passa e, ainda assim, pegar em temas tão complexos como género, violência, moral ou justiça. Perante a contenção permanente de Jorge, representado por Daniel Candia, é pela cor e pelo som que vamos percebendo o seu estado de espírito.

Este é um filme que presta tanta atenção à forma do conteúdo (história) como à forma da expressão (filme), procurando (e conseguindo) um equilíbrio entre os dois, num ato cinematográfico que tem surpreendido a crítica e recebido prémios em vários festivais. Mais impressionante que isso é a forma como consegue explorar, com uma economia tão marcada da palavra, temas tão complexos de forma tão profunda. Matar a un Hombre é um filme que merecia um público maior.

O Melhor: O ambiente; a técnica; a economia da palavra; Daniel Candia.
O Pior: A duração de algumas cenas.


João Miranda

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