Quarta-feira, 8 Maio

Softie: realismo social de Samuel Theis deixa a sua marca no Festival do Cairo

“Softie” é um dos mais fortes candidatos à Pirâmide de Ouro no Festival do Cairo.

Já premiado com o Golden Alexander em Salónica, após uma estreia aplaudida na Semana da Crítica no Festival de Cannes, Samuel Theis, que brilhara com “Party Girl“, vencedor da Câmara de Ouro em 2013, chega ao Festival do Cairo com “Softie”, um drama onde o realismo social está foco para contar a história de um miúdo de 10 anos que vive no seio de uma família disfuncional e que ganha afeição por um professor.

Há sempre pressão e todos apontam o segundo filme como o mais difícil de fazer”, disse-nos o realizador em Cannes sobre o pós sucesso com “Party Girl”, acrescentando que  conhece muito bem a zona onde o filme se desenrola, Forbach, já que cresceu aí. “Ataquei a temática pois não era de todo algo fácil de abordar (…) O que queria explorar era o despertar de um miúdo de 10 anos. Creio ser uma idade interessante, pois é a idade da consciência das coisas (…) Também creio que os filmes sobre esta classe social estão a desaparecer do cinema. Há neste filme uma consciência política, pois como vimos – até pelos protestos dos coletes amarelos – existe uma precariedade na classe média, Na verdade, essa classe média tornou-se invisível e é muito importante para mim falar dela(…) Mas um dos meus objetivos era sair da questão do dinheiro ao falar dessas classes. Num meio social precário, onde até existe miséria, era importante o tema central não ser esse, mas outras coisas importantes da vida das pessoas”.

Embora não se considere um cineasta militante ou ativista, Samuel Theis reivindica um meio social e um espaço regional por onde se move, que neste caso é uma comuna junto à fronteira com Alemanha. “O território por onde me movo é muito interessante, rico e complexo e existem igualmente questões sobre a migração numa área ainda em desindustrialização. Não sou militante ou ativista (….) mas todas as histórias que escrevemos são inspiradas em nós, no que vivemos ou nas nossas realidades. Há algo de muito íntimo nisso

Influências

Claramente que Andrea Arnold é uma influência directa, mas pensei igualmente no cinema de Koreeda sobre a infância. Também me cruzei na mente com o “Fanny e Alexander” de Bergman (…) O Koreeda é um dos grandes cineastas dos nossos tempos. Gosto da forma subtil como fala de classes sociais e, claro, da família, que é o centro do seu trabalho. É alguém confiante, usa poesia simples e de forma natural, mas não hesita em falar de algo grave. Fala dos grandes encantamentos da infância, mas também dos descontentamentos. Mas em termos visuais, a maior influência é mesmo Arnold

Desejo sexual num pré-adolescente…

Escolhi o pudor na questão do retrato do desejo sexual. Pus muitas vezes a questão daquilo que mostramos, tratando-se de um rapaz de 11 anos. Creio que escolhi a via do pudor. Não creio que me possam atacar por aí.” 

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