Sábado, 18 Maio

Como a indústria pornográfica inspirou o novo filme de Sean Baker

Do imigrante chinês ilegal que tenta pagar uma dívida em “Take Out”, à atriz de cinema porno que faz amizade com uma idosa em “Starlet”, passando pelas transexuais de “Tangerine” ou pelo vendedor de material contrafeito nas ruas de Nova Iorque de “Prince of Broadway”, as personagens dos filmes de Sean Baker estão  constantemente, e de alguma forma, nas margens da sociedade e são membros de minorias sociais mal interpretadas, frequentemente estereotipadas, ou sub-representadas. “Vivemos num país e mundo muito politizado, evitar falar disso seria irresponsável”, disse-nos o Baker em San Sebastián. “Queria fazer um filme honesto. Não interessa que personagem mostre no grande ecrã, a audiência não se vai engajar com ela se não conseguir colocar-se ‘nos seus sapatos’. Por isso, para mim é muito importante humanizar as personagens e torná-las reconhecíveis o mais possível. É também o que mais gosto de ver no cinema. Essas personagens estão nas margens da sociedade porque esta não lhes presta atenção”. 

Em “Red Rocket”, o seu novo filme, que estreou em Cannes e passou esta semana por San Sebastián, o realizador de “Florida Project” segue agora Mikey Saber, uma ex-estrela do cinema pornográfico que regressa à sua pequena cidade natal no Texas onde ninguém realmente sentiu a sua falta ou fica feliz pelo seu retorno. “Desta vez o projeto não começou no meu interesse por um lugar, mas sim por pessoas como o Mickey, Pessoas que estão ligadas ao cinema pornográfico. Ao conhecer essas pessoas disse a mim mesmo que um dia ia filmar algo sobre eles. Depois do ‘Florida Project’, discutimos o que íamos fazer e o ‘Red Rocket‘ apareceu. Na minha mente já tinha o meio e o fim, mas não sabia onde o filme ia decorrer. Foi na pré-produção, na busca de locações, que me apaixonei pelo Texas, pelas refinarias e pelas vidas que viviam na sombra delas. Era tudo fascinante a vários níveis, pois estas pessoas podem ser vistas como tóxicas num ambiente também ele assim.”

Mal li o guião apaixonei-me e não me canso de dizer que as pessoas que encontrei nele correspondem ao arquétipo daquelas que conheci em Hollywood“, complementou a resposta o ator Simon Rex, que estava sentado ao lado de Sean Baker na entrevista. “São narcisistas, pessoas sem consciência de quem magoam à sua volta. Há muitos atores e apresentadores assim. Conheço este tipo de pessoas, por isso apenas tinha de representá-las”.

Apesar de antes da estreia em Cannes antever muitas respostas negativas ao filme, pois situa a ação durante as eleições que levaram Trump ao poder, Baker confessa que não recebeu ainda muito “hate mail”, que a crítica o tem recebido bem, mas relembra que a estreia nacional ainda não aconteceu.

À parte disso, o cineasta tem noção que vai irritar muita gente por, tal como no seu filme anterior, deixar o fim em aberto: “As audiências norte-americanas não gostam desses finais abertos (risos). Eu prefiro que a audiência participe no filme. Como membro da audiência sinto um maior engajamento se deixares as coisas à sugestão, em vez de teres um final fechado. É a minha maneira de espalhar a discussão, mesmo que esta provoque uma reação positiva ou negativa.”

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