Segunda-feira, 20 Maio

Veneza: «Gravity» (Gravidade) por Fernando Vasquez

O 3D ganha novo sentido no mais recente trabalho do Mexicano que nos trouxe filmes como Filhos do Homem e Y Tu Mama También.

Longe de se aventurar em grandes dissertações morais ou explorações metafóricas, tão típicas da ficção científica moderna, que, para agrado de tantos fãs esquecidos por esse mundo fora, tem vindo a ganhar novo folego recentemente, Gravity não perde tempo, entrando de imediato em ação pura e dura, capaz de convencer e empolgar os mais cínicos.

Que não haja confusão, o novo filme de Alfonso Cuarón não sofre de qualquer complexo em ser o que simplesmente se propõem a ser, uma experiência sensorial num cenário invulgar e desesperantemente vazio.

Na primeira missão espacial da Dra Ryan Stone (Sandra Bullock), a recém chegada vê-se obrigada a lutar pela vida, lado a lado com o experiente Matt Kowalsky (George Clooney), após uma colisão entre satélites que resulta na destruição dos suportes de vida dos astronautas.

O grande triunfo de Gravity está na capacidade de nos “literalmente” transpor para orbita , onde o isolamento é agonizante e o apoio é inexistente, na verdadeira conceção da palavra. Para esse efeito muito contribuiu o trabalho notável do director de fotografia Emmanuel Lubezki, que por mérito próprio já se tornou numa lenda viva da cinematografia, e que aqui explora o 3D como nunca antes visto. Dito isto, tanta ação e pressa de nos deslumbrar tem um resultado inevitável.

Cuarón, sem nunca se preocupar em nos introduzir ao universo pessoal das personagens, tornou-as em meros acessórios da ação, impossibilitando a genuína afinidade desejada e que nos devia levar ao rubro enquanto estas tentam sobreviver. O guião é inquestionavelmente secundário neste universo, sofrendo em prol da estética.

A breve presença de George Clooney mal chega para encher o olho, obrigando Sandra Bullock a utilizar todos os truques para encher a tela. Talvez o mais surpreendente é o facto de o conseguir fazer e com enorme sucesso, revelando-se a milhas das performances indiferentes do inicio de carreira e mais próxima daquela que lhe valeu o Óscar em Um Sonho Possível.

Sendo encarado como uma potente e tensa experiência visual, Gravity tem tudo para se tornar num marco do género, atraindo muitos novos crentes pelo caminho. Para aqueles que esperavam por mais um filme de culto de Cuaron é bem provável que tenham de esperar mais um pouco.


Fernando Vasquez

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