“The Strangers” por José Pedro Lopes

Kristen e James voltam de um casamento para a casa de campo do pai dele. James acabara de pedir Kristen em casamento mas esta recusara, portanto a hipótese de um fim-de-semana romântico tinham ficado por terra. Como já são altas horas, Kristen e James decidem pernoitar na casa e apenas partir na manhã.

Por volta das 4 horas, uma mulher (que permanece sempre na escuridão) bate-lhes à porta, pedindo para falar com a Tamara. James diz-lhe que ela bateu na porta errada e manda-a embora (numa cena que faz lembrar o arrepiante filme francês ‘A L’Interieur’ de 2007).

Prefiro mais não revelar de ‘The Strangers’, pois este filme baseia-se inteiramente na construção de suspense e de ambiente. E funciona muito bem a esse nível: os primeiros quarenta e cinco minutos do filme são do mais inquietante que o terror de Hollywood gerou nos anos 00.

Uma mistura perversa entre a cena inicial de ‘Scream’ e ‘Funny Games’ de Michael Hanake (não vou revelar em que doses), ‘The Strangers’ é visualmente muito clássico, aposta num terror seco e eficaz e abdica das ‘sobre-edições’ que assombraram os filmes de terror americanos de 00.

Pena é que o suspense seja arrastado tempo a mais – quando chegamos ao terceiro acto e o filme devia evoluir em termos narrativos, somos confrontados com mais jogo do gato e do rato, e com uma perseguição que eventualmente chega a roçar o ilógico. É que eventualmente fartamo-nos de ver uma Liv Tyler (decente mas não memorável) a fugir aos gritos de uns vilões que claramente a podiam agarrar quando quisessem mas… que ainda não lhes apetece.

Mas com compensação sobram os 10 minutos finais, onde finalmente percebemos melhor o que os “Strangers’ estão a tentar fazer. Aqui o filme desce aos níveis do Hollywood mais sombrio e peregrino, num desfecho verdadeiramente macabro e assombrador. Junto com o recente ‘Eden Lake’, forma um grande dueto de medo da interioridade – mas ‘Strangers’, apesar de menos obviamente chocante, é até mais eficaz.