Segunda-feira, 20 Maio

«Halley» por Fernando Vasquez

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Poderão não faltar exemplos de filmes que retratam visões de zombies radicalmente diferentes daqueles a que nos habituou George Romero e companhia. Basta relembrar filmes como “Fido”, “My Boyfriend´s Back”, “Paranorman” ou até mesmo “Colin” para constatar que nem todos os mortos-vivos no grande ecrã representam perigo iminente. 

 “Halley”, do mexicano Sebastian Hofmann, é no entanto um caso raro, para não dizer mesmo único. Longe das perseguições e ação que todos associamos ao subgénero, a primeira longa-metragem do cineasta latino-americano assume-se sem complexos como uma obra avant-garde, sobre um morto-vivo ansioso por encontrar uma forma de morrer de vez. 

Lento e intimo, “Halley” tem a capacidade rara de criar uma comunhão entre o protagonista, Alberto (Alberto Trujillo), e a audiência, que aos poucos vai conhecendo o desespero melancólico de uma existência sem sensações nem perspetivas de futuro, onde o dia-a-dia mundano nada mais é do que um interminável martírio.  
Hofmann, depois do sucesso da sua curta “Ismael” em Locarno, revela-se como perito na arte do controlo, limitando-se a breves interlúdios de um gore subtil mas convincente, sem nunca cair na tentação do exagero ao retratar um corpo e uma mente a apodrecer sob o calor e humidade da América Central. 

Com uma fotografia sonolenta e uma banda sonora delicada, “Halley” poderá não estar destinado a ser um estrondoso êxito de bilheteira, apesar da grande estreia em Sundance e do impacto que causou em Roterdão, mas seguramente deixará muitas “feridas abertas” na mente de quem se atrever a conhecer ao detalhe o conflito interno num corpo, nem vivo nem morto, em rápida decomposição. 
 
 
 Fernando Vasquez
 

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