Eu queria ser extraordinária”, diz-nos no início do filme Joanna (Margaret Qualley), uma jovem poetisa acabada de terminar o seu percurso académico que encontra numa agência de talentos literários o seu futuro mais imediato.

Contratada por uma agente literária carismática, mas antiquada (Sigourney Weaver), Joanna parece ser uma daquelas lufadas de ar fresco num local bafiento de janelas fechadas, papéis amontoados, e onde se olha para os computadores com desconfiança, para novas ideias e autores com reticências e para o passado glorioso, mas empoeirado, com um saudosismo intelectualizado. Na verdade, o autor mais conhecido da agência é o recluso e imprevisível  J. D. Salinger (1919-2010), autor do celebre “The Catcher in the Rye (Uma agulha no palheiropt/O Apanhador no Campo de Centeiobr, 1951, que raramente vemos, mas ouvimos muito nas conversas ao telefone com Joanna.

Baseado nas memórias de Joanna Rakoff, “O Meu Ano Com Salinger” é um coming-of-age autoral assente fundamentalmente no romantismo, ingenuidade e destreza que a sua protagonista entrega, servindo nas entrelinhas algumas doses de amor à literatura, mas sendo particularmente acanhado na exploração da linguagem cinematográfica. 

É que Philippe Falardeau, que antes realizara com sucesso “Professor Lazhar”, apenas parece rotinado para as convenções do crowd pleaser académico – bonito, doce, certinho-, nunca se aventurando além do banal no storytelling, na mensagem e no cinema.

No melhor, o que o canadiano consegue é não transformar este num exercício caricatural, mas também nunca consegue largar uma estranha e por vezes monótona mediania como a de quem tem medo de arriscar (e apenas joga pelo seguro) num exercício que podia ser mais profundo e poético na observação a gerações diferentes e a sua ligação e amor pela literatura.

Pontuação Geral
Jorge Pereira
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