Sábado, 18 Maio

“Gaza Non Amour”: amor numa Gaza em permanente confinamento

Na corrida ao principal prémio do Festival do Cairo, “Gaza Non Amour” foi recebido com aplausos pela multidão que se juntou ontem no WE Theather ao ar livre na capital do Egito.

O filme, inspirado em factos reais, segue um pescador idoso e solteiro que apanha nas suas redes uma estátua grega que lhe vai trazer problemas com as autoridades palestinianas (Hamas). Uma pequena história de amor com o conflito israelo-palestino sempre presente no pano de fundo, e personagens que se veem, todas elas, sem futuro.

Sessão ao ar livre de “Gaza Mon Amour”

Com subtileza e uma clara tentativa em fazer jogos de planos cinematográficos variados, maioritariamente com cores frias que revelam vidas duras sob repressão e controle, esta coprodução entre a Palestina, França, Alemanha e Portugal (via Ukbar) tem um toque subtil e sarcástico no meio de cores frias permanente num ambiente cortar à faca. Há por aqui tiques do cinema de Kaurismaki, mas acima de tudo o amor “numa Gaza que desde sempre vive confinada“, como nos explicou o produtor Rani Massalha, palestino radicado em França. Com exceção do final, as forças israelitas estão sempre omnipresentes no território, quer seja em murais a criticar a sua presença, quer em bombardeamentos que executam, cortes de eletricidade e outros detalhes.

Assinado pelos irmãos Arab e Tarzan Nasser – que já preparam um novo projeto em torno de um vendedor de falafel que se transforma uma estrela da propaganda do Hamas – “Gaza Non Amour” teve estreia mundial em Veneza e passou agora pelo Festival do Cairo.

E por falar em Portugal, parte da obra foi filmada na região de Tavira. “Conhecemos os nossos produtores portugueses – Pandora Cunha Telles e Pablo Iraola – na Berlinale, no mercado de coprodução. Procuravamos um local na Europa onde filmar as sequências marítimas, o barco de pesca, etc. Eles (Ukbar) foram ótimos a organizar as coisas. Foi uma experiência muito boa.

Nunca é tarde para amar

Para Rani Massalha, a mensagem do filme é clara: “Nunca é tarde para amar, existe sempre uma última chance para encontrar o amor. Deves dar sempre uma oportunidade para amar, de saíres da tua prisão interna e expressar os teus sentimentos. Creio que é um problema do ser humano, inerente à nossa natureza, o ser honestos consigo próprios. Quando vemos o protagonista, vemos o pai dos realizadores. Quando vemos o seu interesse amoroso, vemos a mãe deles. Há muito deles ali. Os realizadores queriam também mudar o registo. No seu prmeiro filme, “Dégradé“, vemos o salão de beleza e aquela câmara tremida. Aqui é o oposto“.

O filme também carrega em si um toque político inevitável, já que a presença israelita é inevitável no quotidiano de qualquer palestino. Porém, a análise estende-se aqui também a divisões internas e a problemas que os palestinos têm de resolver dentro de si. Uma cena em particular mostra isso, quando pescador olha de forma desinteressada para os festejos dos mais jovens por terem conseguido adquirir um rocket, ou quando a polícia do Hamas lhe entra em casa e retira-lhe a estátua encontrada,

Ainda sem data concreta para a estreia, dada a pandemia, “Gaza Non Amour” deverá chegar aos nossos cinemas em 2021.

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