Domingo, 19 Maio

O top 10 de Tribeca… até agora

À espera de Doug Liman, que vai relembrar o seu passado como realizador e, quiçá, dar detalhes do esperado “Luna Park”, numa palestra às 17h (horário de Nova Iorque) nesta terça-feira, Tribeca completaa sua primeira semana de festival a colher frutos ligados à sua diversidade de géneros, abordagens estéticas e bandeiras. Vejam a seguir o que fez “mais barulho” no evento até agora:

Wild Men”, de Thomas Daneskov: Com um roteiro ‘mucho loco‘, capaz de evocar “Arizona Raising” dos irmãos Coen, este híbrido de comédia e thriller, com selo da Dinamarca é mais um fino exemplar da onda de filmes escandinavos sobre masculinidade fraturada e lealdade escancarada, como se viu em “Another Round”. Martin (Rasmus Bjerg) é um típico exemplar de cidadão de classe média que, cansado da guerra contra a rotina, muda-se para as florestas da Noruega vestido como um homem de Neandertal, buscando conexão com os seus ancestrais. Mas ao esbarrar com um traficante, eles terão de unir forças, numa amizade inesperada, que salva a sanidade de ambos.

“Queen of Glory”

Queen of Glory”, de Nana Mensah: Eis “O” filme deste festival, bem falado em muitas línguas pela força de sua protagonista. Abrilhantada por uma direção de arte refinadíssima, esta dramédia é um estudo sobre choque entre culturas (sobretudo na triste herança do sexismo) e uma exortação à harmonia familiar.

No enredo, uma estudante de pós-doutoramento do Bronx quer deixar NY e ir para Ohio para perseguir o seu amante, mas recebe a notícia de que herdou a livraria evangélica da sua mãe, uma imigrante de Gana. Ela não pode deixar a loja sem cuidar do funcionário mais querido daquele empório, um ex-condenado (interpretado por Meeko com inteligência e humor). O roteiro constrói uma crónica sagaz de boas maneiras. A direção da fotografia apela para elementos de gramática documental, criando um ensaio realista particular sobre Nova Iorque.

El Perfecto David’, de Felipe Gómez Aparicio: Também sobrou espaço para a América do Sul num dos mais celebrados canteiros de invenção da indústria americana de festivais. Sombrio do começo ao fim, com uma fotografia que desafia a placidez do realismo abrindo-se ao chiaroscuro, este drama ganha contornos de thriller psicológico ao explorar a psique alquebrada de um adolescente (Maurido Di Yorio) cuja meta é ter um corpo escultural, apelando para horas e horas de exercício com pesos – e solidão. A sua mãe (Umbra Colombo, em brilhante atuação) é uma artista plástica que usa o físico do seu rebento como forma de criar um estatuário apolíneo. E essa conjugação entre a arte de um e a sanha fisiculturista do outro caminha para a loucura, rendendo um grande filme.

El Perfecto David


Shapeless”, de Samatha Aldana: Inevitável a comparação entre este thriller somático e o filme de culto “Swallow”, também exibido em Tribeca, em 2019, e também centrado em alimentos. Eis aqui a promessa do que pode vir a ser “o” horror cult do ano. Uma cantora encara toda a sorte das plateias durante as noites de Nova Orleães no meio de uma batalha pessoal com uma estranha desordem alimentar que mexe com a sua psique, fazendo com que ela relacione-se de maneira compulsiva com a comida.

Nando

Nando’, de Alec Cutter: Narrado por Seu Jorge, este documentário em tons poéticos regista os sonhos do menino Luis Fernando Fernandes numa metáfora entre lagarta e borboleta que se aplica à realidade da violência no Rio de Janeiro.

É uma coprodução Brasil – Chile – EUA na qual Fernando, que vive na Mangueira, sonha ver um jogo do Flamengo no Maracanã.

A montagem dá à curta uma fluidez singular.


Stockholm Syndrome”, de The Architects: Vibrante reconstituição documental da carreira performática do rapper Rakim Athelaston Nakache Mayers, conhecido pelo nome artístico de ASAP Rocky, com especial atenção para a sua prisão, na Suécia, em 2019, sob a acusação de agressão, num escândalo que envolve racismo.


The God Committee”, de Austin Stark: Três promessas do audiovisual da década de 1990 dão um sopro de angústia a este drama hospitalar baseado em peça teatral de Mark St. Germain: Julia Stiles (de “10 Coisas Que Eu Odeio Em Ti”), Janeane Garofalo (de “Toda a Verdade Sobre Cães e Gatos”) e Kelsey Grammer (da série “Frasier”). A trama cartografa os conflitos de uma junta formada por médicos (Julia e Kelsey), uma administradora (Janeane) e um padre (Colman Domingo) para decidir quem deve receber um coração numa fila de transplantes de órgão.

The God Committee

Lorelei”, de Sabrina Doyle: Premiado nos festivais de Miami, de Mannheim-Heidelberg e Deauville, esta delicadíssima história de amor pode deixar Tribeca com novas vitórias ao narrar a paixão entre um ex-presidiário (Pablo Schreiber, em ótima atuação) e uma ex-namorada (Jena Malone) que teve duas filhas e um filho adolescente no período em que o seu amado ficou na cadeia.

“7 Days”

7 Days”, de Roshan Sethi: Injeção de ânimo nas veias da comédia romântica. À sombra da covid-19, Ravi (Karan Soni) e Rita (Geraldine Viswanathan), ambos de origem indiana, são forçados a se encontrarem romanticamente. Eles são radicalmente distintos, nos seus modos e crenças mais aparentes: ele é conservador e ela é a calmaria em pessoa. Um encontro entre eles teria tudo para dar errado e piora quando a imposição de um confinamento encerra os dois num apartamento. Confinados, ecomeçam a desenvolver uma atração inusitada.

David”, de Zachary Woods: Indicado à Palma de Ouro de curtas de 2020, este filme-piada ampara-se num guião que jamais larga o trilho da precisão. Will Ferrell brilha em cena no papel de um analista que tem uma sessão de terapia interrompida pelo filho, um ás da luta livre. O analisado, o David do título, vivido pelo ótimo William Jackson Harper, faz o que pode para driblar o inconveniente, mas o absurdo vai se exponenciando narrativa afora.

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