Domingo, 19 Maio

Morreu Anna Karina (1940-2019)

A atriz, argumentista, realizadora, cantora e escritora Anna Karina morreu este domingo, 15 de dezembro, aos 79 anos, vítima de cancro.

Batizada Anna Karina por Coco Chanel, Hanna Karin Blarke Bayer nasceu na Dinamarca a 22 de setembro de 1940 e transformou-se numa das mais icónicas atrizes do cinema contemporâneo nos anos 60, em particular pela sua colaboração com Jean-Luc Godard, com quem filmou sete longas-metragens, tendo vencido o Urso de Prata em Berlim pela sua interpretação em Uma mulher é uma mulher.

A Anna partiu ontem num hospital de Paris depois de lutar contra um cancro. Ela era uma artista livre e única“, disse à AFP o seu agente, Laurent Balandras, acrescentando que a atriz morreu na presença do marido, o realizador Dennis Berry. “Hoje, o cinema francês fica órfão. Perdeu uma de suas lendas“, twittou o ministro da Cultura Franck Riester. A Cinemateca Francesa já expressou a sua “imensa tristeza” com a morte de Karina.



Foi no pitoresco Quarteirão Latino em Paris, junto a um café, que a atriz foi descoberta por Coco Chanel, que a rebatiza. Pouco depois, Godard – então crítico da Cahiers du Cinéma – vê-a num filme publicitário da Palmolive e convida-a para um pequeno papel em O Acossado (1960), onde precisaria se despir. Ela recusa o papel, mas posteriormente aceita trabalhar com o cineasta em O Soldado das Sombras, Uma Mulher É Uma Mulher, e Viver a Sua Vida. Pelo meio, ainda colaborou com Agnès Varda em Duas Horas na Vida de Uma Mulher (1962) e Robert Asher em Quanto Mais Fria, Melhor (1962).

Foi Shéhérazade no filme homónimo de  Pierre Gaspard-Huit e colabora com Chris Marker em Le joli mai. Em 1964 surge noutro clássico de Godard, Bando à Parte, e em A Ronda do Amor (1964) de Roger Vadim.

Depois participa em mais alguns projetos do universo Godardiano –Alphaville, Pedro, o Louco e Made in USA –  e em 1966 é a vez de se destacar em A Religiosa de Jacques Rivette, cimentando a sua posição de rosto da Novelle Vague.

Após alguns papéis musicais, Serge Gainsbourg convida-a a interpretar na TV o papel principal em Anna (1967), ao lado dele e de Jean-Claude Brialy. Seguem-se, entre outras, colaborações com Luchino Visconti em O Estrangeiro (1967); Volker Schlöndorff em Michael Kohlhaas, o Rebelde (1969); George Cuckor em Justine (1969); Rainer Werner Fassbinder em Roleta Chinesa (1976); e Raoul Ruiz em A Ilha do Tesouro (1985).

Ainda na década de 1970, mais propriamente em 1972, funda a profutora Raska e um ano depois lança a primeira longa-metragem que escreveu, realizou e protagonizou: Vivre ensemble (1973), exibida em Cannes na Semana da Crítica. 

Casada com Jean-Luc Godard desde 1961, a dupla separou-se em 1965 e divorciou-se em 1967, tendo Karina posteriormente voltado a casar com Pierre Fabre, de 1968 a 1974; Daniel Duval, de 1978 a 1981; e com o realizador americano Dennis Berry. Foi a meias com este último que colaborou num novo guião, Last Song (1987), mas só voltaria a realizar um filme, Victoria, já em 2008.

No novo milénio, foram poucas as suas presenças à frente das câmaras, destacando-se A Verdade Sobre Charlie (2002), de Jonathan Demme, e Eu César, 10 Anos e 1/2 1,39 (2003), de Richard Berry.

Karina esteve para visitar o IndieLisboa este ano, onde foi homenageada, mas questões de saúde afastaram-na do evento. Foi o próprio festival a anunciar a sua ausência no certame nas redes sociais: “Devido a questões de saúde, a atriz Anna Karina não poderá deslocar-se a Lisboa, como havíamos anunciado. O cancelamento da presença da atriz dá-se por indicação médica, inesperadas razões de saúde que, à última da hora, a proíbem de viajar. O IndieLisboa e a Cinemateca Portuguesa lamentam profundamente este cancelamento, facto que em nada afectará a exibição dos filmes programados no ciclo, vários deles nunca antes, ou raramente, apresentados em Portugal. 

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