Sábado, 18 Maio

João Botelho, o didata, levou Serpa e Foz Côa ao IndieLisboa

Foi na passada sexta-feira no São Jorge que João Botelho apresentou os seus «dois pequenos filmes didáticos»: A Arte da Luz Tem 20.000 Anos e Nos Campos em Volta. Numa introdução acesa, o cineasta teceu algumas considerações sobre as duas obras, as quais, segundo o próprio, funcionaram duplamente como «encomendas e desejos».

Numa era em que «o cinema morre nos centros comerciais» e onde cada vez existem «mais filmes e menos cinema», Botelho filmou num registo educacional mas interventivo em torno de Serpa e Foz Côa, usando mesmo em A Arte da Luz… uma frase de Pablo Picasso como mote (“depois de Altamira, tudo é decadência”).

A sessão começou com Nos Campos em Volta, uma curta com cerca de 10 minutos que, seguindo os campos em redor de Serpa, vai revelando o seu passado, as lendas e vestígios de civilizações antigas que se escondem na paisagem, tudo sob a narração de Margarida Vila- Nova e numa perspetiva arqueológica, onde não faltam recriações animadas de elementos já desvanecidos pelo sinal dos tempos.


Nos Campos em Volta

A Arte da Luz Tem 20.000 Anos é bem mais extensa, abandonando o mero postal turístico e arqueológico quando relembra o célebre plano de afundar as gravuras rupestres através de uma barragem (ideia que nasceu ainda nos anos 50, mas ganhou novos desenvolvimentos nos anos 90).

Esse grande detalhe, que Botelho chega a contrastar visualmente e a tratar como um dos fantasmas do Côa, é também vincado pelo diretor do museu, António Martinho Baptista, o qual aqui funciona como o nosso guia e tutor, apresentando a Joana Botelho, uma visitante do local, e ao espectador, o verdadeiro impacto das obras descobertas na região e aquilo que representam a nível nacional e internacional.


A Arte da Luz Tem 20.000 Anos

Nesta viagem conhecemos naturalmente muitas dessas obras, algumas das quais vedadas ao público localmente, teorizando a data da sua execução e a forma como os nossos antepassados começaram a fazer arte e a captar o movimento, algo que só milénios depois a 7ª arte assumiu como conquista.

No final, fica um desejo enorme de visitar localmente Foz Côa e perceber que o levantamento nos anos 90 contra o projeto de aproveitamento hidroelétrico impediu um verdadeiro genocídio cultural em plena Europa. «As gravuras não sabem nadar”, mas sabem brilhar. E João Botelho conseguiu aqui mostrar isso.

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