Sábado, 18 Maio

Jeremy Irons está em Lisboa para filmar «Night Train to Lisbon» (Comboio Nocturno para Lisboa)

O ator britânico chegou hoje (18) à capital portuguesa para o início das filmagens de seu novo trabalho, “Night Train to Lisbon” («Comboio Nocturno para Lisboa»). Acompanhado pelo realizador Bille August e os produtores do filme, Irons apresentou à imprensa o projeto, que será filmado quase inteiramente em Lisboa nas próximas sete semanas. É a segunda vez que os dois trabalham juntos em Portugal: em 1993 eles filmaram no Alentejo “A Casa dos Espíritos”. A rodagem começou na última semana, com quatro dias de filmagens em Berna, na Suíça.

Baseado no romance do suíço Pascal Mercier,  “Night Train to Lisbon”  narra a vida de um pacato professor de Latim, Raimund Gregorius, que vive em Berna. Encerrado em uma vida rotineira, Gregorius toma a inesperada decisão de entrar num comboio para Lisboa sem uma razão aparente – após ter ido à estação entregar o casaco perdido de uma jovem que salvou do suicídio. 

Ele então encontra nos bolsos do casaco um livro de um escritor português, Amadeo de Prado. Intrigado com o livro e com seu autor, decide levar a cabo em Lisboa uma pesquisa sobre a vida de Amadeo de Prado, um médico ativo na resistência anti-Salazarista. Ao mesmo tempo, vai reconstruindo a sua própria vida sob outra perspectiva.

De acordo com Irons, o que existe de interessante na personagem é justamente o facto dele ter total controlo sobre a sua vida e, num instante, após um ato inesperado, tomar uma medida que o tira completamente do caminho habitual – até perceber que após esse processo tornou-se num homem diferente. 

O ator também fez muitos elogios a Portugal. Recordando a sua outra estadia no país, destacou a magia a atmosfera diferente que encontra aqui. “O que eu me lembro é que adorei Portugal”, disse. Irons revelou que ainda não teve muito tempo para aprender sobre o período da ditadura de Salazar, época na qual se passa parte da história. Ele gracejou dizendo que acabou de sair de um projecto baseado em Henry IV, de Shakespeare, e que teve que aprender muito sobre ele. 
 
 

Já Bille August revelou que foi atraído pela perspectiva de quando acontecimentos extraordinários ocorrem na vida de pessoas comuns – questionando o quanto a mudança está ou não ao alcance de cada um. O realizador não deixou de ressaltar que o facto de a história se passar em Lisboa foi um fator importante na sua decisão de aceitar imediatamente a proposta da produtora alemã Studio Hamburg, sem sequer ler a primeira versão do argumento. August disse ainda que estava emocionado por regressar – e que o seu grande esforço será tentar captar nas filmagens a magia e o mistério da capital lisboeta.

Assim como em “A Casa dos Espíritos”, August cerca-se de um grande elenco internacional. Para além de Irons, Melanie Laurent, Lena Olin, Charlote Rampling, Bruno Ganz, Jack Huston, Martina Gedek, August Diehl e Christopher Lee completam o elenco principal. Do lado português, destaque para Nicolau Breyner e Beatriz Batarda


A produção do filme e as dificuldades do cinema português


«Night Train to Lisbon» terá um custo de £ 7,7 milhões. Além da produtora alemã, a C-Films suíça e a Cinemate, pelo lado português, co-produzem o filme. Será lançado em 2013, distribuído em Portugal pela Zon Lusomundo e no exterior pela alemã K5.

A co-produtora do lado português, Ana Costa, destacou a importância de um projecto de tamanho prestígio internacional para a divulgação de Lisboa no mundo. “É a primeira vez que uma obra deste porte leva o nome de Lisboa no título”, destacou. Cerca de 90% do filme será rodado em Lisboa, com mais algumas cenas em Caxias e Palmela – para além das já filmadas em Berna. Costa calcula que em torno de £ 3,5 milhões vão ser gastos na capital com as rodagens do filme. Esta informação reforça a ideia defendida pelo representante da Studio Hamburg, Günther Russ, de que os eventuais financiadores do cinema em Portugal, particularmente os estatais, deveriam vê-lo, não como entretenimento, mas como uma atividade económica geradora de recursos para o país – e que as co-produções são boas soluções para a continuidade e o financiamento do cinema português em tempos de crise.
 
 

A outra representante do estúdio, Kerstin Ramcke, deu informações sobre o desenvolvimento do projecto, que já leva seis anos. Primeiro foram as dificuldades da transposição do livro para o cinema, já que está largamente voltado para a filosofia. Depois, foram os obstáculos inerentes a uma produção de grande porte, com a busca por co-produtores e patrocinadores. O cineasta Bille August deu o seu OK há dois anos e Irons confirmou sua participação um ano depois.

O livro de Mercier, já traduzido para o português, foi um dos maiores best-sellers em língua alemã dos últimos anos.
 
Roni Nunes 

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