Quinta-feira, 9 Maio

“Os alemães não ousam falar do Holocausto com humor”, diz a realizadora de “Treasure”

Encarado como um gesto sionista por parte da crítica e como um “filme fofo” por outra ala, numa divisão de opiniões que lhe amplia popularidade e visibilidade, “Treasure” foi alvo de uma discussão sobre o espaço dado pelo cinema ao trauma do Holocausto, na sua conferência de imprensa. A atriz Lena Dunham, que fez da série “Girls” um marco, protagoniza esse drama afetuoso ao lado de Stephen Fry, ícone queer dos anos 1990. A temática não passa por conflitos homofóbicos – a causa que mais mobiliza Fry – e, sim, pelo risco do esquecimento do mal perpetrado por nazis contra o povo judeu.

Não podemos parar o fluxo dessas histórias, pois se o cinema não for capaz de mudar a vida das pessoas, nada do que eu fiz nos últimos anos teve valor“, disse Julia von Heinz, ao lado do seu elenco.

A trama baseia-se no livro “Too Many Men“, de Lily Brett, cuja narrativa tem tónus autobiográfico de cunho revisionista. A versão rodada por Julia arranca por uma estrada calorosa, preocupada em jamais perder o olhar para a relação filha e pai que move o guião.

É uma experiência de gerações diferentes que são tocadas por um mal, por um mal histórico de certa forma continuado hoje com o avanço da extrema direita aqui na Europa e nos EUA“, disse Lena, antes de Fry falar ao C7nema sobre a dimensão heroica de Edek, a sua personagem; “Edek não quer fazer parecer para a sua filha que o facto de ser judeu traga consigo um peso. Ser judeu deve ser uma experiência familiar de acolhimento para eles“, disse Fry, que assumiu as suas raízes hebraicas e admitiu ter tido parentes vitimados pelas tropas de Hitler.

No enredo de “Treasure“, Edek está viúvo e decide viajar para a sua Polónia natal para atender um pedido da filha, Ruth (papel de Lena), uma jornalista que pesquisa campos de concentração e os seus fantasmas. Essa jornada da dupla terá pontos de dor, de revisão de antigas mágoas, porém, terá picos de humor.

Os alemães não ousam falar do tema do Holocausto com humor, mas eu tentei“, disse Julia, cineasta germânica, ao justificar a escolha de Lena e de Fry, mais conhecidos pela sua verve cómica.

A Berlinale termina no dia 25 de fevereiro.

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