Quinta-feira, 9 Maio

“Depressa, Depressa”, Urso de Ouro de 1981, volta à Berlinale, em tributo a Carlos Saura

Vencedor do Urso de Ouro de 1981, “Depressa, Depressa” será exibido pela 74º Berlinale na próxima segunda-feira, na seleção de clássicos, no cine ADK para uma sessão em tributo (póstumo) ao realizador que mais (e melhor) encarnou a aura da modernidade no audiovisual espanhol pré-Almodóvar: o aaragonês Carlos Saura (1932-2023).

Construída entre a década de 1960 e 2022, em seis décadas de inquietação, a sua carreira contabiliza 64 láureas, com direito a ter recebido a nomeação ao Oscar. Dividido entre projetos documentais e curtas de ficção, o cineasta morreu no dia 10 de fevereiro do ano passado, aos 91 anos, deixando projetos inacabados, entre os quais longas-metragens sobre a vida de Bach e de Picasso. Deixou ainda um documentário pronto a ser lançado: “As Paredes Falam” (“Las Paredes Hablan”), exibido no Brasil, em outubro, pelo Festival do Rio.

Coroado pelo Festival de Berlim num período de tensão política em Espanha, sob a sombra do franquismo, “Depressa, Depressa” narra o envolvimento de uma mulher de classe média, Ángela (Berta Socuéllamos), com o arruaceiro Pablo (Jose Antonio Valdelomar González) e um gangue. Os seus delitos estão mais para gestos de rebeldia do que para crimes. Era o modo de Saura enquadrar a delinquência.

Dono de uma obra que encantou, com destaque para “Cría Cuervos” (Grande Prémio do Júri em Cannes, em 1976), Saura não parava de trabalhar. Em 2021 abriu o Festival de San Sebastián, no seu país natal, com a curta-metragem “Rosa Rosae. La Guerra Civil” (hoje, disponível na plataforma MUBI) e ainda levou ao Festival do Cairo, no Egito, a arrebatadora longa-metragem “El Rey De Todo El Mundo”, misturando dança e cinema, em forma de musical. Mas a produção exibida na segunda-feira em Berlim pode ser definida como o seu filme mais inspirado de 2000 para cá.

Trata-se de um documentário de 75 minutos sobre o mundo da arte, retratando a relação entre a criação pictórica (pintura, grafitti, desenho) e o espaço do muro (ou da pedra, no caso das cavernas) como tela. Por isso, flana das primeiras expressões gráficas na pré-História até as vanguardas, dando um salto até as inquietas manifestações poéticas das periferias contemporâneas. Realiza e “atua”, participando da narrativa como um investigador. O filme foi rodado em 14 locais, como as grutas de Puente Viesgo e Altamira, na Cantábria, com uma passada pelo sítio arqueológico Atapuerca, em Burgos. Saura não se esqueceu as ruas coloridas de Barcelona, nem dos bairros grafitados de Madrid.

No dia 7 de setembro, a Editora Taurus lançou na Península Ibérica um livro com as memórias do realizador: “De Imágenes También Se Vive”.

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