Quinta-feira, 9 Maio

Supostas palavras de Albert Serra inflamam a Berlinale

Tudo corria em harmonia plena na conferência de imprensa do júri presidido pela oscarizada atriz queniana Lupita Nyong’o, nas primeiras horas da Berlinale 2024, até uma jornalista alemão evocar uma declaração simpática a Vladimir Putin feita por um dos jurados, Albert Serra. Até ali, a estrela de “Us” (2019), vencedora do Oscar por “12 Years Slave” (2013), fez um périplo manso pelos assuntos mais tensos do mundo hoje, celebrando a maior presença das mulheres no cinema e as queixas recebidas pelo Festival de Berlim acerca de uma possível presença políticos de extrema direita na cerimónia que inaugura a mostra oficial.

Nas 48 horas em que aqui estou, só o ouço é que a Berlinale é um festival político“, disse Lupita, antes de responder ao C7nema sobre o seu olhar sobre a realização, uma vez que, há 15 anos, filmou o documentário “In My Genes“. “Tenho imenso respeito por cineastas, pois, nos sets, essas figuras são divindades, sempre com foco e com determinação“. Ela e o realizador alemão Chistian Petzold, que ganhou o Grande Prémio do Júri de Berlim do ano passado por “Afire“, foram as vozes mais consultadas sobre a ala direita do parlamento alemão.

Porém, foi a atriz italiana Jasmine Trinca quem melhor conseguiu saiu da situação. “Se colocas um grupo de fascistas para ver 20 filmes do mundo, há uma forte hipótese da visão que têm do mundo, se expandir“, disse Jasmine. Mas as palavras dela não serenaram o clima de incómodo que se fez em torno de Serra. No apogeu da sua carreira, após a consagração de “Pacifiction” (eleito “O” filme de 2022 pela revista “Cahiers du Cinéma“), o realizador espanhol tem fama de irônico. As suas opiniões carregam um tom de deboche. Mas a hipótese do cineasta ver Putin com carinho trouxe incómodo para a imprensa, Lupita e as restantes juradas. Chegou a pedir que a jornalista se desse ao trabalho de ver a tal entrevista espinhosa do passado na íntegra, para não tirar do contexto as suas palavras. “Não sou Jesus Cristo“, disse Serra. Petzold falou: “Ele não precisa que o defendam“. Também jurado, o ator e realizador Brady Corbet (EUA) saiu em apoio: “Pelo que conheci dele nas últimas horas, posso imaginar que as suas palavras tiveram muitas nuances“. Já Oksana Zabuzhko, uma poeta oriunda da Ucrânia, foi mais ríspida: “Ele está a ler um livro meu. Por isso, vai educar-se um pouco mais“.

Esta noite (15/2), Lupita e o júri vão estar na sessão do filme de abertura da Berlinale, o drama irlandês (feito em coprodução com a Bélgica) “Small Things Like These”, de Tim Mielants. O protagonista é Cillian Murphy, vencedor do Globo de Ouro de Melhor Ator Dramático por “Oppenheimer”, que faz dele um dos grandes concorrentes ao Oscar na mesma categoria. No filme “Small Things Like These“, Cillian interpreta um vendedor de carvão que é assolado por segredos da sua comunidade, ligados ao abuso de poder da Igreja, no Natal de 1985.

A Berlinale segue até o dia 25 de fevereiro.

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