Domingo, 19 Maio

“Uma tolice woke”: Volker Schlöndorff explica a razão do seu novo filme não ter estreado em Sundance

Um ano depois de ter sido um dos grandes protagonistas do Bergamo Film Meeting, através de uma grande retrospetiva dedicada à sua carreira, o alemão Volker Schlöndorff regressou ao certame para estrear mundialmente o seu mais recente filme, “The Forest Maker”.

De natureza documental, embora o cineasta tenha algum cuidado em lhe dar essa catalogação, o filme acompanha de perto os esforços de Tony Rinaudo, um australiano com ascendência da Sicília (Itália) que partiu para África com a ideia e o projeto de reflorestação de uma vasta área do território.

Mas apesar desta estreia mundial ter ocorrido em Bergamo, Schlöndorff confessa que tal ocorreu depois de certames como Sundance, Berlim e CPH:DOX terem afastado o cenário do filme estrear neles. “Sundance deu uma razão para a nega: ‘ não precisamos de histórias de homens velhos e brancos que vão salvar África”, disse o realizador hoje ao público em Bergamo, na sessão de estreia do seu filme. “Uma estupidez e tolice woke. Uma hipocrisia”, completou.

Filmado durante três anos, com a pandemia pelo meio a complicar, e o financiamento a vir dos próprios amigos do cineasta e do Canal Arte, “The Forest Maker” aborda a questão da desertificação como uma das principais responsáveis pela fome na região do Sahel. Uma herança do colonialismo, já que a pratica da cultura intensiva destruiu os solos, o que aliado ao desmatamento pelas “armadilhas da pobreza”, onde se inclui a queima de árvores e transformação em carvão para vender para os países árabes, levaram a uma situação catastrófica numa região onde 70% das pessoas dependem da agricultura.

Volker Schlöndorff e Tony Rinaudo

E “The Forest Maker”, além de abordar o trabalho de Tony, que numa primeira fase resultou num desastre tremendo (90% das árvores que se plantaram, não sobreviveram), faz uma leitura curiosa em segundo plano. No campo, são as mulheres que por lá ficaram com os filhos, sendo a figura do pai ausente uma constante. “É uma África das mulheres. São elas que trabalham”, disse o alemão à plateia, acrescentando que a montagem do projeto demorou 5 meses, pois não queria de todo uma estrutura cronológica dos eventos, nem um acompanhamento geográfico, país a país.

Nascido em 31 de março de 1939, em Wiesbaden, Schlöndorff começou a trabalhar no cinema como assistente de realização de Louis Malle, Alain Resnais e Jean-Pierre Melville. No seu currículo, a solo, estreou-se com “O Jovem Törless“, baseado no romance de Robert Musil, criando na sua cinematografia uma marca distinta na adaptação de grandes obras do século XX como Marcel Proust (A Paixão de Swann), Marguerite Yourcenar (Golpe de Misericórdia), Heinrich Böll (A Honra Perdida de Katharina Blum), Nicolas Born (Círculo de Mentira), Margaret Atwood (A História da Aia) e Günter Grass (O Tambor). No seu currículo encontramos ainda “O Ogre” (1996), que adapta a obra literária de Michel Tournier, ou “O Nono Dia” (2004),

O Bergamo Film Meeting arrancou no dia 26 de março e termina no próximo dia 3 de abril. 

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