Segunda-feira, 20 Maio

Realizador critica aproveitamento político da extrema-direita em torno de “Bac Nord”

Presente no catálogo da Netflix e já com 2 milhões de espectadores nas salas de cinema em França, o filme “Bac Nord” (The Stronghold) tem sido aproveitado por alguns candidatos (ou prováveis candidatos) à presidência francesa, como Éric Zemmour e Marine Le Pen, para as respectivas campanhas eleitorais.

Passado em Marselha, o filme é inspirado num escândalo de 2012 que envolveu 18 membros da Brigada Anti-Crime (BAC), acusados de tráfico de drogas. Grande parte da ação passa-se nos subúrbios da cidade gaulesa e, tal como “Stillwater” já mostrara este ano, a polícia não consegue aceder aos bairros sociais, que no filme de Jimenez são dominados pelos traficantes que impõem a sua própria lei & ordem.

Quer o potencial candidato à presidência Éric Zemmour, quer a líder da Frente Nacional (agora União Nacional), Marine Le Pen, têm utilizado o filme para acentuar os seus discursos em prol da segurança e problemas com a imigração, o que levou Cédric Jimenez  a “colocar os pontos nos i’s” numa conversa com a France Inter. “É puro aproveitamento político”, disse. “Um filme é um filme. Trata-se de uma ficção que conta um fait divers muito específico, não conta a totalidade [do que acontece] nos bairros do norte [de Marselha]”. O realizador confessou ainda que não “aceitou bem” e “detestou” quando viu o seu filme ser repetidamente citado pela extrema-direita.

Se o único argumento desta  campanha eleitoral for um filme com atores, é ridículo, é de loucos! (…) Não concordo de forma alguma com eles [Éric Zemmour e Marine Le Pen], não me quero associar a eles. Eles não representam os nossos valores. Não quero que ‘Bac Nord’ sirva para uma campanha eleitoral de pseudo segurança“, disse. Falando especificamente de Zemmour, Jimenez afirma que este interpretou o filme mal: “Este senhor não pode estar a falar a sério. Eles estão a usar este filme para dizer coisas terríveis, das quais discordo”.

Finalmente, Jimenez recorda que cresceu em Marselha e que existe muita diversidade e alegria, garantindo que tem ótimas lembranças: “A cidade não é ‘Bac Nord’. ‘Bac Nord’ é um caso de polícia. O filme não se chama Quartier Nord !“. Para ele, a longa-metragem não é sobre questões de segurança e imigração, mas sobre o trabalho da polícia: “o subúrbio é o contexto”.

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