Domingo, 19 Maio

Festival de Tribeca arranca nos ecrãs indies de Nova York

Signo de diversidade autorial e independência narrativa ao longo de quase duas décadas, o Festival de Tribeca transformou muitos filmes em cultos, a destacar a sua mais famosa descoberta, “Let The Right One In” (2008), do sueco Tomas Alfredson, uma das histórias de vampiros mais invejadas deste século.

Pela sua aposta nas expressões narrativas mais indies, o evento virou marca de invenção tendo como mecenas o ator Robert De Niro. Hoje envolvido nas filmagens de “Killers of the Flower Moon”, a nova longa-metragem do amigo Martin Scorsese, De Niro tem dividido as suas atenções com o evento que, desde 2001, tem sido um projeto de vida na sua trajetória nas artes.

Criado pela estrela de Hollywood, pela produtora Jane Rosenthal e pelo investidor Craig Hatkoff, a maratona cinéfila de Nova York nasceu em resposta à tragédia do 11 de Setembro, de modo a levantar o moral da cidade a partir de uma celebração da diversidade audiovisual. Fiel a esse espírito, Tribeca vai abrir as portas de sua edição 2021 nesta quarta-feira, com a première mundial de “In the Heights), musical de Jon M. Chu.

A programação deste ano, agendada até 20 de junho, conta com uma seleção de 66 filmes inéditos de 23 países, pilotados por 83 cineastas (uma vez que muitos títulos foram rodados em dupla ou trio). O seu principal chamariz é o thrillerNo Sudden Move”, com a marca do realizador Steven Soderbergh (Palma de Ouro 1989 por “Sexo, mentiras e Vídeo”), somando o talento de Benicio Del Toro com o de Don Cheadle, no elenco.

No Sudden Move

Na trama, um grupo de criminosos precisa unir forças para encobrir uma falcatrua. Da sua génese até hoje, Tribeca sempre teve um íman de plateias a mais, além das exibições: a sua série de palestras com grandes realizadores, estrelas e produtores. As famosas Tribeca Talks vão dar voz, este ano, a Doug Liman (hoje em cartaz com “Chaos Walking – O Ruído”); a atriz Shira Haas (de “Unorthodox”); e o músico, produtor e ator John Legend (“La La Land”). Mas a conversa mais esperada envolve um polémico campeão de bilheteiras que virou sinonimo de suspense, fantasia e misticismo: M. Night Shyamalan.

Ficam a seguir as promessas de Tribeca para os próximos onze dias:

Queen of Glory

Queen of Glory”, de Nana Mensah: Abrilhantada por uma direção de arte refinadíssima, esta dramédia é um estudo sobre choque entre culturas (sobretudo na triste herança do sexismo) e uma exortação à harmonia familiar. No enredo, uma estudante de pós-doutorado do Bronx quer deixar NY e ir para o Ohio para perseguir o seu amante, mas recebe a notícia de que herdou a livraria evangélica de sua mãe, uma imigrante de Gana. Ela não pode deixar a loja sem cuidar do funcionário mais querido daquele empório, um ex-condenado (interpretado por Meeko com inteligência e humor). O roteiro constrói uma cronica sagaz de boas maneiras. A direção da fotografia apela para elementos de gramática documental, criando um ensaio realista particular sobre Nova York.

No Man Of God

No Man Of God”, de Amber Sealey: Eternamente lembrado como Frodo, em “O Senhor dos Anéis”, Elijah Wood promete se reinventar neste thriller psicológico baseado em factos reais, no papel do analista do FBI Bill Hagmaier.

Partidário da filosofia de que os criminosos precisam ser estudados sob um prisma psicanalítico humanista, Hagmaier foi incumbido da missão de decifrar a mente do serial killer Ted Bundy (Luke Kirby), numa série de entrevistas realizadas de 1984 a 1989, na Florida. Ali, toda maldade se revela. Ou seria loucura?

Shapeless

Shapeless”, de Samatha Aldana: Eis aqui a promessa do que pode vir a ser “o” horror de culto do ano.

Uma cantora encara toda a sorte de plateias durante as noites de Nova Orleães no meio de uma batalha pessoal com uma estranha desordem alimentar que mexe com sua psique, fazendo com que ela se relacione de maneira compulsiva com a comida.

We Need To Do Something

We Need To Do Something”, de Sean King O’Grady: Uma jovem homossexual alvo da homofobia por parte dos seus parentes é obrigada a ficar trancada com a família ultraconservadora no WC da sua casa para escapar a um tornado que devasta a sua cidade. Lá, o lado mais brutal dos seus pais aflora, numa narrativa pontuada pelo terror.

A Choice of Weapons: Inspired By Gordon Parks”, de John Maggio: Famoso por ter filmado “Shaft” (1971), Gordon Alexander Roger Buchanan Parks (1912-2006) foi um dos pilares da fotografia americana, desafiando o racismo para retratar figuras como Malcolm X.

Este documentário investiga seu legado estético e as suas batalhas éticas.

Roaring 20’s

Roaring 20’s”, de Elisabeth Vogler: Operando com apenas seis takes, a francesa espalha 24 atores por Paris para contar uma história de diversidades humanas que colidem, combinando realidade e ficção.

Wu Hai

Wu Hai”, de Zhou Ziyang: Exibido em setembro no Festival de San Sebastián, na competição pela Concha de Ouro de 2020, este drama repleto de tensão saiu do evento espanhol com o Prémio da Crítica, votado pela Federação Internacional de Imprensa Cinematográfica.

Na trama, parcialmente ambientada num parque temático de dinossauros, vemos os dilemas de Yang Hua e Miao Wei, um casal feliz que vive numa pequena cidade rodeada por uma paisagem desértica espantosa na Mongólia. Dívidas vão dilacerar a paz deles.

Brighton 4th


Brighton 4th”, de Levan Koguashivili: Um representante do novíssimo cinema da Geórgia. Um campeão de luta livre, hoje grisalho, tem de viajar até os Estados Unidos, para salvar o filho, que abriga georgianos ilegais e tem uma dívida com a máfia.

The Ballad of a White Cow

The Ballad of a White Cow”, de Maryam Moghadam e Behtash Sanaeeha: Feridas políticas abrem-se quando a protagonista, Maia, vivida pela realizadora, é informada de que o seu marido, Babak, recém-executado pelo governo, morreu injustamente, sendo inocente de um crime que cometeu. Foi a tal vaca do título, imolado em nome de um sacrifício em vão. Mas a parábola religiosa em torno do animal vai ser reaproveitada mais adiante, provando que até histórias sagradas podem ser relativizadas. Dividindo-se entre compromissos de codiretor e o trabalho de edição, Behtash Sanaeeha monta o filme em parceria com Ata Mehrad, num registo de tensão crescente, no silêncio característico do cinema do Irão. A produção concorreu ao Urso de Ouro, em março, e está na Berlinale Summer Special Edition – em andamento em solo alemão a partir desta quarta-feira , disputando a láurea de júri popular.

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