Quarta-feira, 8 Maio

‘Olhar o Medo’ e como “a crítica está sempre atrasada no que se refere a cinema de terror”

Como que a contrariar todo um conjunto de visões pejorativas que possam ser associadas ao cinema de terror, a dupla António Araújo e José Carlos Maltez aposta, justamente, num livro representativo da diversidade e da qualidade do género. “Olhar o Medo – Visões do Cinema de Terror”, tem lançamento oficial na edição em curso do Motelx, no próximo sábado (16/09), às 16h, no cinema São Jorge. O livro também já está disponível na Fnac e nas livrarias Ler Devagar, Linha de Sombra, Snob e Escriba.

Produzir uma coletânea de textos que percorre à longa história do cinema de terror está na base do projeto – onde mais de 80 filmes surgem analisados em 14 seções. Estas obedecem uma divisão que percorre muitos dos temas e personagens famosos do género, como vampiros, lobisomens, “serial killers” e monstros diversos – para além de filmes impossíveis de catalogara e que surgem na seção “Fora da Caixa”.

Todo esse projeto de valorização das obras de um dos géneros mais populares do cinema, acaba por ultrapassar preconceitos há muito veiculados pela crítica especializada. Conforme observa José Carlos Maltez, “a crítica especializada está sempre muito atrasada no que se refere ao cinema de terror e a prova é a grande quantidade de filmes que hoje são clássicos do cinema e na altura dos seus lançamentos foram muito maltratados. Talvez por serem filmes que, muitas vezes, quebram barreiras e as pessoas não estão preparadas para isto”.

É neste sentido que um dos pequenos ensaios que percorrem o livro é taxativo: “elevated horror” não existe. O rótulo justifica mais um modismo preconceituoso do que um conceito sério sobre o terror – tentando legitimar algo que não precisa de tal. “Acho ofensivo”, diz Araújo. “o terror é um género que sobrevive mesmo que não tenha um holofote voltado para si, pois têm resultados de bilheteira muito sólidos. O que se está a dizer com esses rótulos existem filmes que, apesar de serem de terror, são inteligentes”.

Pelo livro adentro o leitor poderá encontrar textos e boas histórias tanto sobre filmes famosos e incontornáveis, como “Tubarão” ou “O Exorcista”, quanto pérolas alternativas como o vampiresco “Only Lovers Left Alive”, de Jim Jarmusch. Sem que a dupla esconda que não transita muito pela “exploitaition” e pelo “torture porn”, uma das exceções é “Aniversário Macabro” (“The Last House on the Left”), o violento e ainda intenso filme de estreia de Wes Craven.

Gosto do filme por toda aquela atmosfera híper realista e por uma descrição do mal sem razões”, explica Maltez. “Ele simplesmente acontece, está nas nossas vidas, vai nos bater a porte, sem explicações. É muito cru e chocou pela positiva. É um filme difícil.

Vindos ambos de um longo trabalho de escrita (o “blog” A Janela Encantada, de Maltez, O Segundo Take, de Araújo, e textos para a Take Magazine), os autores decidiram compilar e selecionar o seu trabalho especialmente para esta edição. Dentro da complexa história de um género cuja metamorfose e as manifestações são extremamente variadas, os critérios das escolhas variaram entre a representatividade do filme, o gosto pelo mesmo e, também, a qualidade do texto inspirado por eles. “Também é um livro sobre a nossa escrita”, observa Maltez.

O que o projeto não é, conforme enfatizam, é um compêndio exaustivo sobre filmes de terror. Portanto, é inútil procurar filmes ausentes – já que a escolha recaiu sempre em selecionar seis filmes para cada um dos 14 tópicos, opção não isenta de dificuldades.

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