O fenómeno do rap na plataforma SoundCloud é objeto de um curioso documentário de Justin Staple, que não só acompanha individualidades que explodiram nas redes sociais, como Lil Peep, Smokepurpp e Bhad Bhabie, como o seu modo “New Wave” em tudo o que os circunda, sejam nos ritmos cada vez mais sintéticos, as palavras aguerridas e provocatórias que debitam, as frequentes atitudes à “rockstar” e até ao uso de drogas, com as prescritas a servirem de base para muitos deles.
O carisma de irreverência punk, a linguagem “gangsta” e até os tiroteios que alguns se envolvem, não divergem muito da chamada Old School, mas o seu comportamento na máquina capitalista afastou-se do modelo tradicional das editoras, preferindo a explosão das redes sociais para mostrar o seu material e agendarem performances.
A indisciplina continua a ser palavra chave, a guerrilha com as gerações anteriores de rappers é inevitável, e as marcas estereotipadas – tatuagens (um deles tem Anne Frank no rosto), roupas, linguarejar – servem de marcas identitárias para figuras que nasceram já no mundo digital e que se aproveitam dele como as empresas tradicionais não o souberam fazer na sua explosão. E apesar destes serem já filhos pós-napster, o seu modus operandi na composição assenta num rol gigantesco de influências, muitas completamente incongruentes, mas chegadas até si por toda a informação acessível à distância de um clique.
O movimento teve o seu epicentro em Broward, Flórida, mas gerou uma série de réplicas por todos os EUA, criando uma nova geração global de jovens fãs que certamente irão criar um novo ciclo nos tempos que advém, o qual entrará definitivamente em choque com os mais antigos, em todo o esplendor da chamada generation gap.
Justin Staple molda o seu trabalho com sapiência, energia e ritmo, misturando entrevistas com videoclipes, atuações em palco e imagens de arquivo que traçam um panorama tão estudioso do fenómeno como igualmente um exercício de puro entretenimento, especialmente para os fãs.
