Domingo, 5 Maio

“Tenho 2 filmes para fazer, mas não vou conseguir”: o lamento de Alexander Sokurov

Presente no Festival do Cairo (2-10 dezembro), Sokurov falou ao C7nema sobre arte, cinema e mercado


Presidente do Júri do Festival do Cairo, o russo Alexander Sokurov, cujo “A Arca Russa” (executado inteiramente num plano sequência) tem sido replicado por inúmeros filmes globalmente, lamentou ao C7nema, em entrevista (a publicar brevemente), o facto de ter dois filmes ainda que gostaria de fazer, mas que não conseguirá, pois nunca seriam aprovados: “Quero analisar a condição humana, de forma poética. Não realista, mas fantástica, sobre relações humanas sem fronteiras.” Quando questionado se não os poderia realizar nos EUA, Sokurov foi peremptório: “A América não é um paraíso. Às vezes, há pessoas que vivem pior nos EUA que noutros países”.

E as plataformas de streaming, seriam uma hipótese para fazer esses dois filmes “impossíveis”? A resposta ficou “aberta”, adiantando o famoso realizador que o “problema não é tecnologia em si, mas a arte e as ideias”. “Todos os estudantes hoje em dia têm essas tecnologias, mas isso nem é necessário pois não sabem o porquê. A questão é “sobre o quê?”. Como tecnologia, podem fazer o que quiserem, mas não existe um significado no meio que usam. (…) É como o Shostakovich me disse uma vez: “Hoje em dia toda a gente consegue tocar bem música”. Na Jamaica, no Japão, na Rússia e até na China. Toda a gente pode tocar bem.

Indo mais fundo na questão artística e da perda da arte nos Festivais de Cinema mais famosos, em detrimento do “mercado“, o responsável pela sensacional tetralogia em torno dos efeitos corruptores do poder – “Moloch” (1999), “Taurus” (2000), “The Sun” (2004) e “Faust” (2009) – falou em “Grande Arte” e lançou uma frase provocante: “Os países democratas não sabem o que fazer com a arte, por isso apenas os países totalitários têm interesse nela“.


Um dos maiores nomes da 7ª arte, Sokurov admitiu que aceitou o convite egípcio para estar no júri do festival para poder ver filmes, reencontrar colegas e observar como as pessoas realmente vivem neste país. “É importante ver a diferença entre o antigo Egipto e a sociedade contemporânea”, frisou.

Sokurov falou ainda de Lisboa, “a cidade das cidades”, onde filmou “Pai e Filho”, em 2003. “Foi um grande sonho filmar em Lisboa. Cortámos muito do planeado porque queríamos muito filmá-lo em Lisboa“.

Quinze filmes competem para o principal prémio do Festival do Cairo, incluindo a coprodução portuguesa “Gaza Mon Amour”, o brasileiro “Casa das Antiguidades” e o russo “Conference”. A ajudar Sokurov no júri temos os realizadores Karim Ainouz, Najwa Najjar e Burhan Qurbani; o produtor egípcio Gaby Khoury; e as atrizes Lebleba e Naian Gonzalez Norvind.

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