Terça-feira, 7 Maio

50 anos depois, o “mea culpa” do LA Times pela destruição da carreira de Jean Seberg

Há cinquenta anos, um editor do Los Angeles Times teve conhecimento de um rumor perigoso, divulgado pelo FBI ao jornal. O Times publicou a história sem a verificar, e a vida de uma famosa jovem atriz foi destruída.

Assim começa um artigo do Los Angeles Times, publicado no passado dia 7 de junho, domingo, o qual serve como reconhecimento tardio de como o jornal contribuiu para aniquilar a carreira de Jean Seberg, uma atriz norte-americana imortalizada como ícone da Nouvelle Vague logo após a atuação no filme de Jean-Luc Godard, O Acossado (1960).

A intenção do FBI em divulgar a história falsa era clara: Seberg fazia doações monetárias avultadas ao movimento Panteras Negras e era necessário destruir a sua reputação. O programa secreto da agência norte-americana, COINTELPRO, foi criado por J. Edgar Hoover para “assediar, intimidar, difamar, desacreditar e neutralizar” qualquer figura que representasse um perigo para a sociedade americana.

Já com J. Edgar morto, e logo após o suicídio de Jean Seberg em Paris, em 1979, o FBI reconheceu o seu papel: “Os dias em que o FBI usava informações depreciativas para combater defensores de causas impopulares já passaram há muito tempo. Estamos fora desse tipo de negócios para sempre. ”

A “Fofoca”

Jen Seberg e o marido Romain Gary

Seberg foi uma das muitas personalidades de Hollywood que apoiou monetariamente os Panteras Negras e especulou-se que pode ter tido um relacionamento extra-conjugal com um de seus membros, Raymond Hewitt. Quando engravidou, um telegrama foi enviado do escritório do FBI em Los Angeles para J. Edgar Hoover, solicitando permissão para “divulgar a gravidez de Jean Seberg, atriz conhecida [nome apagado] do Partido dos Panteras Negras [BPP], aos colunistas de fofocas de Hollywood“. Esse telegrama dizia ainda que isso poderia “causar vergonha e servir para baixar o valor da imagem” da atriz”. A resposta do FBI foi clara: “Jean Seberg é uma contribuinte financeira do BPP e deve ser neutralizada.”

O rumor chegou a um repórter do Times, que a entregou ao editor do Metro, que por sua vez a deu à colunista de coscuvilhices Joyce Haber. A jornalista publicou o artigo a 19 de maio, sem usar nomes, mas com detalhes suficientes para que Seberg fosse facilmente identificada. Uma semana depois, a Newsweek fez uma peça semelhante, mas nomeia mesmo a atriz.

Depressão e morte

Santa Joana (1957)

Colocada numa lista negra de Hollywood, tal como outra “revolucionária” da época chamada Jane Fonda, Seberg entrou em trabalho de parto prematuro a 23 de agosto de 1970 e deu à luz uma menina com 1,8 kg. A criança morreu dois dias depois e ela realizou o funeral na sua cidade natal no Iowa com o caixão aberto, permitindo aos repórteres ver a pele branca do bebé, desmentindo os rumores. O casal Seberg e Romain Gary processou a Newsweek, mas a vida da atriz nunca mais foi a mesma, mesmo tendo participado em diversos filmes na década de 1970, principalmente em produções italianas ou francesa.

Em 1979, suicidou-se. Dizem as crónicas que o seu corpo ficou em decomposição num carro, numa rua em Paris, durante 10 dias antes que a polícia francesa o descobrisse. Ao seu lado estava um frasco de barbitúricos e uma nota de suicídio.

Numa conferência de imprensa logo após a morte da sua então ex-mulher, Romain Gary foi bem explícito numa conferência de imprensa: “Jean Seberg foi destruída pelo FBI” quando a agência forneceu a “um grande jornal americano” informações imprecisas. Informações essas que conduziram a uma sucessão de desgraças…

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