Segunda-feira, 13 Maio

The Fog: a bruma é a resposta aos nossos medos

The Fog (O Nevoeiro) chegou aos cinemas norte-americanos no dia 8 de fevereiro de 1980

The Fog é nas suas possibilidades o filme mais convencional e conservador de John Carpenter, título que viria a ser batido pelo até então derradeiro The Ward (O Hospício). Esta é a sua obra que mais facilmente condensa os primários elementos do género de terror clássico, sem com isto afirmar que nos deparamos com um nevoeiro “básico” ou rotineiro. Carpenter faz uso da escuridão, da luz e por sua vez a sugestão (não nos são  demonstrados os “espectros-monstros” na sua totalidade) para orquestrar uma ambiciosa história de assombração, ao invés de um marco, edifício ou lugar, é uma cidade amaldiçoada sob a forma de uma praga “bíblica”, uma fobia patológica endereçada à condenação.

Mas começando pelo início, e porque Carpenter assume esta obra como um portento do seu terror, na sequência inaugural vislumbramos jovens ao redor de uma fogueira e o ancião Mr. Machen (John Houseman) pronto a relatar a história que os irá arrepiar a partir dali: “11:55, quase meia-noite. Tempo que sobra para mais uma história. Uma história mais antes das 12:00, para nos manter quentes. Em cinco minutos, será o dia de 21 Abril. (…)“.

Uma narração vivida pelas voluntárias pausas e a voz trémula e sinistramente confiante de Houseman como cúmplices, ao longe são ouvidos os sinos, outrora informantes do horário, agora encarando-se como trovantes ao auxilio do relato em si. “12:00, dia 21 de Abril“, o alerta foi dado ao espectador quanto a este terror prestes a emergir. Nesta sequência somos devolvidos à década de 30, com Edward Van Sloan a avisar-nos de forma premonitória dos horrores por detrás da cortina em Frankenstein (James Whale, 1932) – “Será provavelmente demasiado horrível para vocês. Então, se algum de vocês sente que não deve submeter os nervos a tal tensão, agora é a chance de, uh … Bem, nós o avisamos.

The Fog arranca então sob os acordes do próprio Carpenter para preencher uma atmosfera em constante ebulição para uma eventual catástrofe, uma calamidade sob a forma de nevoeiro e sob a aura de uma sinistra sobrenaturalidade. Antonio Bay é a cidade que nos acolhe, ficamos a conhecer os seus “pacatos” habitantes, a locutora de rádio do farol-monumento que conforta os noturnos (a confortante voz de Adrienne Barbeau), e dos andarilhos que chegam nas “piores das alturas” (Jamie Lee Curtis a submeter-se a mais uma perseguição “carpentiano”).


Há uma comemoração, um dia histórico, uma celebração, que mais tarde se vai descobrir num prematuro plot twist – “A celebração desta noite é um travesti. Nós honramos assassinos” – assim despertando um exercício de mortos-vivos espectrais. O que faz The Fog funcionar em todo o seu esplendor, para além da sua atmosférica esfera de um terror semi-antológico, é a sua capacidade de sugestão. A neblina propaga-se nos momentos de tensão e, tal como sucedera com Jaws, de Steven Spielberg, ou muito antes disso, The Duel, o efeito sugestão tem primazia, nunca cedendo ao explicito de revelar na totalidade o seu monstro, neste caso, monstros.

Porém, toda esta fantasmagórica corrida contra o tempo leva-nos a uma perversa perceção: afinal, tudo não é mais que uma história, um conto de fantasmas narrado pelo ancião de forma a assustar o seu público … o seu jovem público. Será esse “velho” Carpenter o incitador de pesadelos?

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