Domingo, 5 Maio

Woody Allen e a sua série para a Amazon: «Eu nem sei o que é um serviço de streaming»

A Amazon parece não desarmar em querer produzir conteúdos com o dedo de cineastas de autor, como Whit Stillman [que até apresentou no IndieLisboa o episódio piloto do seu Cosmopolitans], Spike Lee, Jean-Pierre Jeunet, Jim Jarmusch, Terry Gilliam e até Woody Allen, o qual quando assinou o seu contrato para a produção de uma série, não teve problemas em ser sincero na sua abordagem ao tema, adiantando que «não sabia porque aceitou» e nem tinha «a certeza por onde começar».

Agora, e numa nova entrevista à Deadline, Allen revela uma grande ansiedade com o projeto, mostrando mesmo arrependimento por tê-lo aceite e confidenciando que desde que assinou o contrato não teve um único momento agradável.

Quando questionado de como conciliava a sua fuga à tecnologia (computadores e iPads) com o contrato para criar uma série para o serviço de streaming, Allen respondeu: «Eu nem sei o que é um serviço de streaming: isso é a coisa interessante. Quando você disse “serviço de streaming”, foi a primeira vez que ouvi esse termo associado à Amazon. Eu nem sabia o que era a Amazon. Nunca vi nenhuma dessas séries, mesmo na TV por cabo. Nunca vi Os Sopranos ou Mad Men. Eu saio todas as noites e quando regresso a casa, vejo o final do jogo de basquetebol ou basebol, o Charlie Rose e vou dormir. A Amazon vinha continuamente até mim a dizer: por favor faz isto, aquilo que quiseres. Eu continuava a dizer que não tinha ideias, que nunca via televisão. Eu não sei nada sobre isso. Bem, isto durou um ano e meio, e eles continuaram sempre a melhorar a proposta. Finalmente, disseram: olha, fazemos tudo aquilo que quiseres e tu só tens de nos dar seis horas e meia [de uma série]. Elas podem ser a preto e branco, elas podem passar-se em Paris, em Nova Iorque e na Califórnia; elas podem ser sobre uma família, pode ser uma comédia, podes participar nelas, podem ser trágicas. Nós não precisamos de saber nada, apenas queremos as seis horas e meia. Ofereceram imenso dinheiro e toda a gente à minha volta pressionou-me para eu avançar, perguntando mesmo, o que tinha eu a perder? (….) Arrependo-me todos os segundos desde que disse OK. Tem sido tão difícil para mim. Eu tinha uma confiança arrogante. Bem, vou fazer como se fosse um filme… um filme em seis partes. Afinal, não é. Para mim tem sido muito, muito difícil. Tenho lutado, lutado, lutado. Eu só espero que quando acabar – tenho até ao fim de 2016 – eles não sejam esmagados por uma deceção pois são são realmente boas pessoas e não os quero desiludir. Estou a fazer o meu melhor. Vou fazê-la entre filmes, por isso não será, “não vai haver filmes este ano”. Eu vou fazer a [série da] Amazon. É um trabalho dentro da minha agenda habitual. Mas não sou tão bom nisso como fantasiei ser. Não é pêra doce…».

Recordamos que Allen apresentou este ano no Festival de Cannes Irrational Man [ler crítica], um filme protagonizado por Emma Stone e Joaquin Phoenix. No próximo verão o cineasta vai filmar uma nova longa-metragem, a qual ainda não tem título, mas que se sabe que terá no elenco Kristen Stewart, Bruce Willis, Jesse Eisenberg e Blake Lively.

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