Domingo, 19 Maio

A Malta e Eu: um fragmento da juventude

O realizador francês Michel Gondry tentou perceber a dinâmica dos grupos de jovens cuja personalidade está em construção. Um dos seus aspetos é a variação do seu comportamento quando estão com amigos, quando tem de fazer coisas para serem aprovadas, de quando estão sozinhos. Mais do que uma simples análises sociológica, a perspetiva revela algo mais: a formação da própria identidade quando da chegada da adulta.

É esse processo que o cineasta foi buscar num grupo de jovens do Bronx, a viver personagens e diálogos muito semelhantes ao seu quotidiano e com uma interpretações bastante naturalistas – que os leva mesmo assinar os seus próprios nomes nos créditos finais. Trata-se do último dia de aula quando um grupo de jovens embarca num autocarro. Dentro dele, há precisamente aquilo que se espera: deboches, humilhações, gargalhadas, partidas, choros, fim de relacionamentos etc. Nesta pequena viagem onde muitos vão saindo até só restarem dois personagens, o realizador ofereceu um divertido e, ocasionalmente, emocionante retrato da juventude.

Garotos do Bronx

Conforme revelou em entrevista ao Collider, ele não encontrou uma única escola de atores em Nova Iorque capaz de trabalhar no filme daquela forma, até que descobriu uma organização do sul do Bronx chamada The Point. Dedicada a trabalho comunitário, os seus artistas, educadores e ativistas associaram-se a Gondry – desenvolvendo um projeto que durou três anos. “Foi um grande trabalho para os garotos. Quem não gostaria de entrar num filme com os seus amigos e ser pago, como num trabalho de verão, a fazer algo que lhe deixaria orgulhoso?”, observou.

Jovialidade

A Malta e Eu estreou na Quinzena dos Realizadores, no Festival de Cannes, em 2012. Em geral tem agradado aos críticos, embora não de forma consensual. Um comentário que resume bem as avaliações positivas foi o do especialista da Television Without Pity, que observou que “Michel Gondry voltou aos filmes de baixo orçamento e redescobriu a sua jovialidade no processo“. Uma das críticas mais azedas veio do Seattle Weekly: “A Malta e Eu é menos um filme do que um estudo social experimental, um projeto escolar onde um grupo de garotos explora a eterna tensão teen entre o individual e o grupo“.

A Espuma dos Dias

O seu novo trabalho, A Espuma dos Dias já anda na ribalta, mas antes dele convém lembrar ainda um documentário que podia aterrar pelo DocLisboa ou algum outro festival de boa índole: Is the Man Who Is Tall Happy?: An Animated Conversation with Noam Chomsky. O nome diz tudo – reunindo uma série de conversas com o grande pensador norte-americano. Teve por enquanto uma única exibição nos Estados Unidos. Quanto ao trabalho com Audrey Tautou e Romain Duris, propriamente dito, estreou em França em abril, passou por Karlovy Vary e chega às salas portuguesas em outubro.

 

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