Quinta-feira, 9 Maio

Maryam Moghaddam e Behtash Sanaeeha “cruzam todas as linhas vermelhas” impostas pelo governo do Irão

Proibidos de deixar o Irão e vir a Berlim apresentar o seu mais recente filme, “My Favorite Cake“, a dupla Maryam Moghaddam e Behtash Sanaeeha enviou uma mensagem para os jornalistas, cabendo à protagonista da obra, Lili Farhadpour, a leitura da mesma.

Decidimos cruzar todas as linhas vermelhas e restrições, e aceitar as consequências da nossa escolha de pintar uma imagem real das mulheres iranianas”, disseram Maryam Moghaddam e Behtash Sanaeeha sobre o seu filme que mostra uma viúva septuagenária, Mahim, que trava conhecimento com um taxista, Esmail (Esmail Mehrabi), convidando-o para ir a sua casa. Os dois vão viver uma noite única, sempre com o receio que a polícia da moralidade ou as vizinhas intrometidas da mulher descubram que os dois estão sozinhos na casa. “Sentimo-nos como uns pais proibidos até de olhar para o filho recém-nascido. Não nos foi permitido hoje assistir ao filme convosco, um público exigente de um festival de cinema. Estamos tristes e cansados, mas não estamos sozinhos”, disse a dupla, cujo último filme – “Ballad of a White Cow” – foi também exibido na Berlinale, em 2021.

A dupla revelou ainda que cada vez está mais difícil de filmar no Irão e que se tornou completamente impossível retratar de forma fiel a mulher iraniana devido à censura. “Durante anos, os cineastas iranianos têm feito filmes sob regras restritivas, obedecendo a linhas vermelhas que, quando ultrapassadas, podem levar a anos de suspensão, proibição e processos judiciais complicados. É uma experiência dolorosa, que já vivemos muitas vezes”.

My Favorite Cake

Já a dupla de atores que protagonizam a longa-metragem em competição ao Urso de Ouro, teve permissão para estar em Berlim, cabendo a Lili Farhadpour grande parte das questões vindas dos jornalistas. Definindo que aceitou o papel pelo realismo da história, Lili não se mostra preocupada por aparecer grande parte da obra sem o Hijab. “Uma mulher não lava a roupa com o Hijab posto. Nem o usa quando está em casa. O filme é apenas um retrato fiel e por isso não tenho de pensar sobre o assunto.

Já Esmail Mehrabi definiu que como homem se sente incomodado com as restrições às mulheres no seu país, mas rapidamente mudou para os tópicos abordados no filme, como a solidão e o amor, sem se expor em demasia a qualquer polémica.

O Festival de Berlim começou no dia 15 de fevereiro e termina no próximo dia 26.

Notícias