Sábado, 18 Maio

Com forte presença francesa e luso-brasileira, arranca nesta terça (12/09) o MOTELX

O festival decorre entre 12 e 18 de setembro no cinema São Jorge. Para além dos filmes, lançamentos de livros, BDs, debates e performances completam a programação. O C7nema conversou com os diretores João Monteiro e Pedro Souto sobre as novidades deste ano.

Um dos grandes destaques é, sem dúvida, o novo trabalho de Gabriel Abrantes, “A Semente do Mal”, onde reduz um tanto as idiossincrasias do seu muito aplaudido “Diamantino” para fazer um filme de terror em formato mais clássico. “É um filme de terror português que se assume como tal, não é algo retrospetivo – como ‘Os Canibais’, de Manoel de Oliveira”, diz Monteiro. 

Produção portuguesa, a história gira em torno de um norte-americano que vem a Portugal e vai pesquisar as suas raízes familiares – isso para deparar-se com um casarão e os seus sinistros hóspedes. 

Ainda em língua portuguesa, facto reforçado com a parceria este ano com o festival Guiões, dois filmes brasileiros surgem na seção Serviço de Quarto – o muito elogiado “Propriedade”, de Daniel Bandeira, que estreou no Festival do Rio antes de passar por Berlim, e “Estranho Caminho”, de Guto Parente, um dos grandes premiados do nova-iorquino Tribeca, em abril. 

De formas muito diferentes, ambos ainda surgem nos contextos maléficos da passagem de Jair Bolsonaro na presidência brasileira – o primeiro ao refletir o discurso de incentivo à violência ligada à uma classe com antecedentes de tal (os grandes latifundiários) e o segundo na forma irresponsável como o governo tratou a pandemia da Covid-19.

Propriedade

Brandon Cronenberg

O cineasta canadiano é mais um daqueles artistas assolado pelo enorme nome do pai – neste caso, claro, David Cronenberg. Os diretores do Motelx, no entanto, que de modo geral fizeram parte do grande coro de espectadores que associaram a estreia de Brandon, “Antiviral”, com o pai, sem ver devidamente o que ele tinha de distinto, agora apostam precisamente nisto.

Infinity Pool”, por exemplo, o seu último trabalho que já passou por Sundance e Berlim, é completamente distinto de qualquer sombra do pai – embora percorra o universo do terror. Conforme sublinham, “Brandon Cronenberg é muito mais plástico, muito mais atento a pormenores como luzes, cores e música. Esse filme traz um comentário político muito diferente dos que o pai costumava fazer – focando-se, por exemplo, nas elites que controlam o restante da população”, afirmam.

Presença francófona 

Nada menos que cinco filmes franceses transitam pela programação – entre os quais os filmes de abertura e encerramento. “The Animal Kingdom”, que tem antestreia nacional, abriu A Certain Regard, em Cannes, com uma fábula sobre humanos que se transformam em animais. Conforme Pedro Souto, neste cenário apocalíptico as relações são levados ao extremo e onde se descobre a animalidade dos humanos e o seu contrário. “Também foi uma boa forma de variarmos a procedência geográfica dos filmes de abertura já que a maioria, nos anos anteriores, eram norte-americanos”, diz Pedro Souto.

Outra catástrofe ocorre no final, com “Acide”, que encerra o festival em ritmo de filme-catástrofe quando uma chuva literalmente ácida corrói tudo aquilo que toca – inclusive certos locais, tornando a busca por abrigo invulgarmente difícil. No meio disto, uma família reata os seus laços para tentar sobreviver. 

Segundo João Monteiro, “Hood Witch” é um filme extremamente tenso que faz um paralelo com um contexto de justiça popular hoje presente – neste caso através da história de uma jovem que faz uns biscates como curandeira local numa localidade contemporânea. Isso até algo correr mal e despoletar uma caça às bruxas. Esse, aliás, é um tema extremamente contemporâneo – também tocado em “Propriedade” e em outros projetos no festival. “Antigamente associávamos esse conceito a tempos antigos, onde pessoas menos instruídas sucumbiam à fúria e à violência. Atualmente temos vindo novamente a nos habituar a isso com as redes sociais”, frisa Souto. 

Vincent Must Die” (“só a premissa já vale o filme”, diz o programador) trata de um pacato arquiteto que desperta apetites assassinos naqueles que olham para ele – ao ponto de ele ter que tomar uma atitude se quiser sobreviver. “Vermin”, por fim, traz um curioso cruzamento entre as tensões sociais que infestam as periferias francesas com… aranhas.

Vincent Must Die

O passado e o presente

Entre alguns dos clássicos relembrados este ano estão os 50 anos de “O Exorcista” e o espanhol “[REC]”, um dos filmes mais poderosos dos últimos anos. O filme de William Friedkin dispensa apresentações e hoje em dia ainda tem a sua graça calcada numa atmosfera única que a equipa de produção conseguiu criar na época.

Claro que hoje termina por ser visto como um filme “pró-católico” – a despeito de todo o terror ocorrido até chegar a uma das cenas finais, onde Linda Blair beija o colarinho do padre. “É especialmente relevante depois das Jornadas da Juventude”, brinca João Monteiro. 

[REC]2”, curiosamente, trazia muitas influências do filme de Friedkin, mas não dele que se trata aqui, mas da obra-prima que o antecedeu – embora não conste na lista de filmes de prediletos dos diretores do Motelx. “Em termos de terror europeu, sim, merecia um ‘top ten’”, diz Monteiro. “Foi um filme revolucionário em Espanha e no continente”, diz. “[Rec] Horror without a Pause”, a ser exibido no festival, documenta a construção do filme e revela vários pormenores curiosos sobre o projeto. E tem Manuela Velasco – “[REC]” não teria a mesma graça sem a sua intrépida jornalista…

Por fim, destaque para a apresentação do projeto grupo Liquid Sky, que apresenta um projeto televisivo de forte raiz dadaísta, “On Bloody Paths”, e o debate sobre inteligência artificial moderado por Paulo Portugal e que conta com a presença de Pacheco Pereira. 

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