Domingo, 19 Maio

A magia de Émile Cohl e os fantasmas de Trieste encerram a Bergamo Film Meeting 

Nascido no formato de mostra não competitiva, mas recalibrado com a sua Mostra Concurso em 1987, o Bergamo Film Meeting encerrou oficialmente as portas este domingo.

Na sua última sessão tivemos “Amen” de Costa-Gravas, grande homenageado desta 40ª edição, mas momentos antes duas sessões muito especiais serviram como a cereja no topo de um bolo que durante uma semana (26 março-3 abril) mostrou grande qualidade.

Numa colaboração com o Festival de La Rochelle, que este ano completa  50 anos, o evento “encerrou” oficialmente com a exibição de 12 curtas-metragens de Émile Cohl, pioneiro do Cinema de Animação, acompanhados ao vivo pela dupla Marco Pasinetti (guitarra elétrica) e Filippo Sala (bateria e percussão). Um delicioso cine-concerto, muito bem orquestrado, não apenas do ponto de vista musical, mas na seleção dos trabalhos do autor, de “Transfigurations” (1909) a “Fantoche cherche un logement” (1921).

Transfigurations” (1909)

Logo depois foi exibido um work-in-progress, um projeto de Thanos Anastopoulos, cujo “Diorthosi” (2007) foi exibido no Indielisboa, e “L’ultima spiaggia” (2016) “aterrou” em Cannes. 

No início era apenas uma encomenda para um projeto sobre a comunidade grega de Trieste por ocasião do bicentenário da revolução grega (1821-2021). A minha primeira reação foi recusar educadamente, mas aí chegou a pandemia e o confinamento: com mais tempo disponível, mergulhei na pesquisa. Não queria fazer um documentário ou um filme histórico. Queria falar sobre o presente. Estava num beco sem saída quando soube do trabalho de restauração no cemitério da comunidade grega, Retro-escavadora derrubaram as sepulturas históricas. Talvez os ocupantes dos túmulos tivessem ficado perturbados depois de tantos anos de paz e silêncio. Com todo esse clamor eles teriam se aborrecido, teriam saído das sepulturas, teriam apanhado para a cidade. Parecia o começo de um terror, mas também podia ser uma comédia. As fronteiras entre realidade e fantasia estavam diminuindo: nem documentário então, nem filme histórico, talvez um sonho? Aqui, um sonho que lembra a era da lógica perdida. Um sonho absurdo durante a pandemia. Uma fantasmagoria histórica”, diz o realizador sobre o seu novo filme, “Fantasmata tis epanastasis“, que originou vários risos no Auditorium di Piazza Libertà.

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