Um ano depois de ter estreado no CPH:DOX na Dinamarca, e com passagem pelo Queer Lisboa em setembro, “Passion” de Maja Borg aterrou no Bergamo Film Meeting 2022 com todo o estrondo.
A razão não é para menos, tal como a elegância e sofisticação que a cineasta sueca emprega neste trabalho difícil de inserir no registo tradicional do documentário. Partindo do final de uma relação tóxica, em que assumidamente tinha o papel de completa submissão, Maja viaja e permanece algum tempo como objeto – cobaia por decisão – à procura de uma mudança pessoal no universo do BDSM, e na herança cristã associada a essa prática.
“Precisava re-entender o poder para entender qualquer coisa. Para mim, isso significava entrar nos territórios desconhecidos da prática BDSM e conetar com os rituais e estudos cristãos. Esta busca de estratégias para superar o trauma é a força motriz de ‘Passion’”, explica a realizadora sobre o seu filme, onde o termo “consentimento” e establecimento dos próprios limites, para assim ser realmente livre, acompanham a obra desde os primeiros minutos. “A minha esperança é que este filme possa ser parte da crescente conscientização sobre uso construtivo e destrutivo do poder que começou com o movimento Me Too, a fim de ir além dos estigmas que oprimem o prazer e provocam comportamentos abusivos”.
Viajando entre dois grupos de prática BDSM, um casal homossexual que vê a chegada de Mestre, e um grupo no feminino que ajuda Maja a responder às suas dúvidas, “Passion” é um repuxo de poesia e psicologia que constantemente invade os sentidos do espectador. Uma verdadeira desconstrução e reconstrução pessoal, captada por uma câmara que estabelece também ela os seus limites, num jogo onde o desejo, cura e o ato de pertencer casam em todas as suas contradições.
O Bergamo Film Meeting arrancou no dia 26 de março e termina no próximo dia 3 de abril
