Segunda-feira, 6 Maio

“Tenho de ter muito cuidado com os papéis que farei a seguir”, diz a estrela de “Titane”

Depois de a sua primeira longa-metragem como protagonista triunfar no Festival de Cannes, a vida de Agathe Rousselle não será mais a mesma. Super preparada para a campanha de promoção ao filme que se adivinha, não apenas na corrida aos Oscars, que admite, mas a todos os prémios possíveis da “award season” que aí vem, a jovem atriz de “Titane” sentou-se connosco em San Sebastián e explicou, entre muitas coisas, que não existe nada dela na personagem que interpreta e que assumiu esse papel como uma folha em branco. “Tudo estava escrito, não havia espaço para eu preencher a personagem e isso era algo bom. A Julie Ducourneau  tinha uma ideia muito precisa do que queria, pois dedicou 4 anos da sua vida a isto. Ela sabia tudo o que pretendia, da decoração às luzes, os atores, tudo.  O Vincent Lindon é um ator muito técnico, metódico, preciso, coisa que eu não sou. No fundo, não tive espaço para preencher a personagem porque não precisava. Sabia que se fizesse exatamente o que a Julie me mandava fazer, tudo iria ficar bem. (…) Ao seres um ator rapidamente tornas-te neste monstro. Transformas-te, é como um ato de incepção”. 

Agathe Rouselle em “Titane”

Depois do guião de Titane chegar até si, Agathe Rousselle disse que ficou siderada com ele: “Não conseguia parar de o ler. Nesse dia jantei mais tarde por causa disso, não conseguia parar. E no final desatei a chorar pois é bastante trágico, no sentido mesmo da tragédia grega. Mitológico, intenso e poderoso. Não hesitei um momento. Era também um papel muito físico, o que adoro. Não há nada de mim neste papel. Uma das coisas que me agradava era construir a personagem do zero, construir a postura, por exemplo. Outra coisa fascinante é que ela era uma psicopata e passei muito tempo a ver coisas sobre eles, a tentar entendê-los, a ver o vazio dos seus olhos”.

Para Agathe, “Titane” vai mesmo andar na temporada de prémios e nem outra coisa teria sentido. Quando questionamos se está preparada para isso, responde taxativamente: “Nasci para isso”, acrescentando mais tarde que ao fazer o seu primeiro papel no cinema com este filme, os holofotes vão estar na sua direção, sendo certo que terá de pensar muito bem nos próximos passos a dar. Uma coisa é certa, Quentin Dupieux está mesmo na sua lista de cineastas com quem quer trabalhar no futuro.

Quanto ao filme e ao impacto que teve em Cannes e no próprio cinema francês, a atriz espera que “Titane” traga mais liberdade aos autores do seu país e que novos cineastas surjam no processo: “Espero que este filme e a sua vitória em Cannes dê liberdade para novos realizadores não fazerem aquilo que já chamamos como ‘filme tipicamente francês’. Existe um conceito de filme francês, a maioria das vezes muito burguês. Há algo nele sempre redundante e já é assim há muito tempo. Algo que adveio da Nouvelle Vague e está nele desde então. Espero que ‘Titane’ dê aos jovens realizadores a hipótese e escolha de fazer um filme que não aparenta ser como os outros. Veja-se o Body Horror. Sinto que em França os autores não usam e exploram o corpo convenientemente. Não quero generalizar, mas sinto que a maioria dos filmes franceses são agarrados aos diálogos, ao guião, e espero que este filme dê ideias aos cineastas de fazerem outras coisas, não necessariamente no género de horror.”

Titane” estreia dia 7 de outubro em Portugal e a entrevista completa a Agathe Rousselle será publicada brevemente.

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