Segunda-feira, 20 Maio

Rock Bottom Riser e Esquí: experimental genérico

Há uma experiência única em ver-se Rock Bottom Riser, da competição nacional do IndieLisboa este ano, e Esquí, da internacional: apesar de lidarem com temas diferentes, fica a sensação de que são iguais. Não iguais no sentido de serem feitos pelas mesmas pessoas e por isso terem uma coerência de estilo, mas iguais por terem essa coerência, apesar de serem feitos por pessoas diferentes. Ambos procuram mostrar a complexidade dos temas a que se dedicam sobrepondo camadas narrativas ou imagens que poderão funcionar como espreitar através das várias faces de um cristal para tentar perceber o todo. Ambos também partilham da ideia que a estética da imagem amadora e a duração das cenas representam de forma mais aproximada a realidade. Finalmente, ambos são demasiado indulgentes em (demasiadas) cenas a que se entregam e que dificilmente se defenderiam como essenciais e na utilização de efeitos de som que por vezes chegam mesmo a tornar difícil perceber o que é dito.

Rock Bottom Riser parece (apesar da leitura tão clara que passa na sinopse apresentada pelo Indie, não o é assim quando visto) mostrar a cultura havaiana e a sua interação com a natureza à sua volta, bem como com as formas de conhecimento colonialistas. É nas suas entrevistas que se conseguem encontrar os momentos mais fortes, com algumas das ideias a aparecerem completamente separadas das imagens que as acompanham. Por outro lado, tem uma cena com pessoas a manipularem anéis de fumo que não só dura demasiado tempo, como não adiciona nada num filme que, apesar de só ter 70 minutos, se sente demasiado longo. A comparação óbvia é com o “Botão de Néctar” de Patrício Guzmán, mas fazê-lo mostra a insuficiência de “Rock Bottom Riser” e todas as suas falhas.

Esquí é o mais coerente, a nível de ideias, dos dois, mostrando (desta vez sem dúvidas) vários níveis de realidade de uma estância de esqui da Argentina. Também aqui é nas entrevistas que se encontra a força do filme, chegando a explorar uma capacidade meta-narrativa, incluindo críticas feitas a versões anteriores, e procurando colmatar falhas que estas pudessem ter. Infelizmente, também aqui há cenas desnecessárias, demasiado longas ou cuja exploração formal não serve o argumento apresentado. Ainda assim, não se perdendo em tentar fazer poesia da ciência (ou o que quer que fosse que estivessem a tentar fazer no outro filme), a realidade concreta que é mostrada consegue prender o filme e impedi-lo de resvalar sem sentido. O final, apesar de algum esforço pelo realizador, ainda consegue ter algum impacto emocional, que rapidamente é esquecido com duas cenas adicionais até chegar ao final. Um bom editor/montador teria ajudado a retirar um filme excelente do que é algo meramente satisfatório.

No final, os elementos que contribuem  para a sensação de semelhança entre estes dois filmes são os mesmos que aparecem em tantos outros que povoam os festivais há já alguns anos e com a forte probabilidade de se manterem a assombrá-los durante alguns mais: há uma escola do documentário experimental que parece reproduzida nas escolas de cinema e ganhar alguma vida na realidade alternativa criada por esses certames. Curiosamente (ou não) é muito raro encontrar-se este tipo de filmes no circuito comercial.

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