Terça-feira, 14 Maio

«O Lugre – Terra Nova»: o drama em alto-mar que Nicolau Breyner nunca chegou a realizar

As primeiras imagens do filme foram reveladas na Fundação Castro Alves, em Vila Nova de Famalicão, no decorrer do festival de cinema jovem YMOTION.
A produtora Sónia Costa encontra-se confiante no projeto que poderá figurar um dos grandes festivais de cinema do início de 2020: “já colocamos o filme para o Festival de Berlim, esperemos que seja aceite”. O Lugre – Terra Nova é a adaptação de duas obras do dramaturgo Bernardo Santareno, que abordam os conflitos no interior de um bacalhoeiro cujo capitão decide, contra a vontade da sua tripulação, seguir mais a Norte a fim de compensar a escassa pesca. O ato levará à discórdia, motins e até mesmos danos colaterais. 
 
Com um elenco inteiramente masculino, representado por alguns dos atores mais reconhecidos pelo grande público, como Virgílio Castelo, Vítor Norte, Miguel Borges, Pedro Lacerda e João Catarré, O Lugre – Terra Nova era inicialmente um projeto de Nicolau Breyner. Porém, apesar da morte do ator/realizador, a produtora decidiu avançar com o filme, colocando Artur Ribeiro, muito próximo a Breyner, no cargo de “comandante da navegação” e autor do argumento.
 
Foi uma produção de risco, mas no final compensou. Para os atores foi como ir à tropa, criou-se entre eles uma camaradagem inabalável”, disse Sónia Costa ao C7nema, acrescentando que todos os participantes manifestaram uma enorme dedicação. Em relação aos tempos que se vivem , e que exigem representação no cinema, um filme inteiramente desempenhado por homens é hoje uma ideia quase inconcebível a nível de industria. A esta questão, a produtora respondeu de forma pragmática: “naquele tempo, só os homens é que iam à pesca do bacalhau”, rematando de seguida que a ausência feminina será colmatada com uma série televisiva em paralelo, composta por 13 episódios, com a direção de Joaquim Leitão. A série irá assim mostrar as famílias desses marinheiros, a ausência destes e ainda um retrato político-social de Portugal no Estado Novo: “São dois projetos completamente isolados, a série aborda a vida em terra”, afirmou.
 
Um dos atores-chave do filme e presente na apresentação, Vítor Norte, referiu o filme como uma rodagem marcante, chegando mesmo a falar por todos os outros membros do elenco: “todos tiveram a experiência da vida deles”. Para além da televisão, onde é uma das caras queridas do público português, Norte tem presença habitual no grande ecrã em filmes como Cinco Dias, Cinco  Noites – de José Fonseca e Costa – e a cinebiografia de Aristides Sousa Mendes (atualmente há quem fale da possibilidade de uma sequela que explora os últimos dias do cônsul). Aqui ele é um contramestre, um velho pescador que serve de ligação hierárquica entre a tripulação com os oficiais: “é um tipo que mete ‘água na fervura’”. 
 
Em declarações ao C7nema, o ator revelou ter estudado a sua personagem, através da pesquisa sobre a prática da pesca do bacalhau, mas que o tempo exigido não lhe deu espaço e tempo para “pesquisas exaustivas”. Ainda assim, ele acredita que foi com a experiência e o estudo dos outros atores que o fez compreender sobre esta dura profissão. A rodagem consistiu em estar a bordo do ex-bacalhoeiro Santa Maria Manuela, em alto-mar ao longo das Fiordes “sem telemóvel, nem Internet”, durante 19 dias.
É um meio de homens, meio agressivo, um meio super vicioso (…) o teste demonstra isso, esse lado inculto e animal, o regresso dos homens ao estado primitivo”, acrescentou o ator Pedro Lacerda, frisando ainda que a obra, apesar de ocorrer inteiramente em território marítimo, colocará questões sobre o Portugal daquela época e os tempos sombrios que o cercavam.
 
O Lugre – Terra Nostra é tido como umas das potenciais estreias de março de 2020 nos cinemas portugueses. Do lado técnico, Luís Branquinho (O Barão, A Peregrinação) é o diretor de fotografia.

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