Uma capitalizada elite angolana já começa a demandar produtos culturais que, de alguma forma, os conecta com algum tipo de mito fundador vindo de um passado ancestral. No caso deste filme, a opção foi por um contexto histórico assente na luta de tribos angolanas contra a colonização portuguesa no início do século XVII. O centro da narrativa é uma rainha “corajosa e destemida” que decide lutar “até a morte” contra os invasores.
Se em termos históricos a obra é tão questionável quanto qualquer biografia hagiográfica, o problema maior é, no entanto, de ordem cinematográfica. Neste quesito, Njinga, Rainha de Angola não é uma boa ideia mal executada mas sim, antes de tudo, uma má ideia. Isto porque as possibilidades de acerto na realização de um épico por um país cujo cinema é incipiente são mínimas logo à partida – e em que pese a experiência televisiva que está por trás da produtora principal do projeto.
Os contornos clássicos de uma história política com querelas dinásticas e intrigas de bastidores são logo perdidos por um enredo confuso (já lá vai o primeiro terço quando o espetacdor é finalmente situado no tempo cronológico) e um acting sofrível. Depois, sem as possibilidades de se reproduzir a grandiosidade das cenas de batalhas já tão vulgarizadas por Hollywood, em vez de se tentar usar a imaginação opta-se pelo banal – desfilando à frente do espectador uma sucessão de cenas de “ação” sem qualquer emotividade.
Nem perdido nem achado no meio dos arcos e das flechas com as quais os guerreiros combatem as armas de fogo dos portugueses, o realizador português Sergio Graciano tenta compensar as críticas que sofreu por ser demasiado “televisivo” no seu bastante digno Assim Assim. Para isso, esmera-se em movimentos de câmara elaborados, apoiando-se numa fotografia de cartão postal e na música algo burocrática mas eficaz de Rodrigo Leão. É tudo que fica deste “épico” africano.
O Melhor: alguns recursos de produção
O Pior: é uma má ideia mal executada
Roni Nunes
