“Obrigado por terem tido tempo para essa experiência no pequeno-almoço!”. Quem agradece é Adina Pintilie, a cineasta romena que vem causando furor desde o Urso de Ouro recebido na última Berlinale. No Festival de Sevilha para a estreia espanhola do filme, ela conversou com os jornalistas após uma sessão matutina que foi, de facto, intensa. Em Portugal a antestreia decorreu durante o Lisbon & Sintra Film Festival, agora estreou comercialmente.
O agradecimento da realizadora tem a sua razão de ser: Touch me Not não é para todos nem para qualquer momento – enveredando por campos difíceis, que vão desde a deformação física até o sadomasoquismo. E isto de uma forma não necessariamente confortável para a audiência.
Sem um enredo propriamente de ficção, mas longe de ser meramente documental, “Não é documentário, não é ficção e não é experimentalismo. Eu chamo esse filme de um processo”, observa Pintille.
Ela conta que essa produção que reuniu recursos de cinco países e um elenco, distribuído entre profissionais e amadores, vindo de oito nações, iniciou em 2013 e a construção do filme foi sendo feita à medida que ia conhecendo pessoas dispostas a partilhar experiências muito particulares – e que serviam, obviamente, aos propósitos do seu tema.
Adina Pintelie no Festival de Sevilha l Foto.: Roni Nunes
O filme acompanha Laura (Laura Benson), uma mulher de meia-idade que vive diferentes experiências, por vezes bizarras, enquanto anda à procura de redescobrir o seu próprio corpo – o que, num plano simbólico, remete à uma espécie de reencontro da sua identidade. Um dos seus dramas decorre, justamente, do contato físico. “É muito difícil falar sobre o corpo”, diz a cineasta. “É um assunto cercado de muitos preconceitos, muitos tabus e vergonha”.
Longe de ceder ao experimentalismo com finalidades puramente estéticas, Touch me Not aposta forte no conteúdo. E este está relacionado com uma ideia: a de que a “recuperação do corpo”, num sentido sensorial, vai de encontro à libertação do indivíduo, à sua verdade essencial, ao encontro da identidade e à uma sustentação frente ao olhar do Outro. A própria realizadora como atriz e às tantas toma o lugar da protagonista frente à câmara.
Evidentemente a sexualidade tem que estar por todo o lado – embora não seja o assunto principal. Numa cena logo a abrir, Laura assiste um homem, vindo da prostituição, masturbar-se; em outro essa busca está interligada ao “usufruto” da dor – que um dos atores profissionais do elenco (o islandês Tómas Lemarquis, conhecido por O Albino Nói) frequente uma orgia “S&M”.
O longo processo de pesquisa para a realização do filme no mundo real levou Adina a dois dos seus protagonistas, que representam por si diferentes aspetos na relação com o corpo. Um deles é Christian Bayerlein, um homem tetraplégico e um dos principais “personagens” das longas cenas desenroladas num centro de reabilitação onde a terapia passa, precisamente, pelo toque. Já Hanna Hofmann é um travesti que, exemplo de um espírito que se adapta a um corpo com o qual não se identifica, termina por dar certas lições de aceitação à uma frágil Laura.