John Wick é uma daquelas sagas que nos orgulhamos ao ver desenvolver-se. A sua evolução a nível de produção, narratividade e referências são uma evolução que transparece ao olhar e à perceção geral do espectador por diversos motivos.

Quando surgiu o seu primeiro capítulo, em 2014, criado pela dupla de realizadores Chad Stahelski e David Leitch e baseado nas personagens do também guionista da obra Derek Kolstad, John Wick era um filme de ação que se diferenciava pela cinematografia de movimentos e por uma violência belamente justificada pela sua criação de mundo. Hoje, John Wick consagra-se como uma saga que soube crescer, perceber as suas falhas, melhorá-las e criar uma linguagem própria.

Wick já matou com armas, com as mãos, com um lápis, com um cinto; e o episódio 3 não desaponta com as suas engenhosas criações para a sede de vingança de seu “bicho-papão”. Nada disso seria possível sem a corporalidade de Keanu Reeves e seu treino efusivo para dar credibilidade aos movimentos da sua personagem, o seu trabalho de atuação ainda possibilita que o tom de seus diálogos – poucos e concisos – não sejam parolos, mas sim charmosos.

Esta linha ténue entre “parolice” e “charme” é uma das expressões desta linguagem própria de John Wick. Stahelski e Leitch, realizadores do primeiro episódio, desenvolveram um estilo de realização que colocava em primeiro nível a violência, tanto que as falhas de guião da primeira longa metragem não são superáveis, criando um “filme de ação bem feito” e pronto. Leitch, entretanto, sai de cena e cria Atomic Blonde, longa-metragem de 2017 – o mesmo ano do segundo  da saga Wick -, e comete os mesmos erros e mesmos acertos com a sua trama espelhada e liderada por Charlize Theron Ou seja, um “filme de ação bem feito” e pronto.

Stahelski continua a sua jornada e, ao lado de Kolstad, melhora as suas técnicas já antes apreciadas e o seu guião, resolvendo assim as pontas soltas e lapidando o diamante que tinham em mãos.

O enquadramento do passado de Wick neste terceiro episódio é complementar, e pelo encaixe subtil que adquire no arco da narrativa – diga-se de passagem que seria extremamente fácil encaixá-la a partir de flashbacks e toques de drama – consegue encontrar a melhor saída para não perder todo o tom do filme.

Assim como a presença de Halle Barry. Protagonista de uma das cenas de ação mais memoráveis ao lado de cães genialmente inseridos e trabalhados, dá um respiro à trama que por algum momento possa parecer carregada demais pelo peso de suas lutas intermináveis e travadas apenas ao lado da nossa personagem central. Ao lado de Reeves, hoje com 54 anos, Barry, aos 52, entrega um de seus trabalhos mais prazerosos de se ver e retoma aquele “gostinho” sobre a carreira de uma atriz que, mesmo após ganhar um Oscar, fez algumas escolhas erradas.

Assim, Chapter 3: Parabellum é o melhor dos John Wick. E mesmo com a inserção de algumas piadas fora de tom (falha sintomática da indústria), uma reviravolta um pouco preguiçosa, e e um fim aberto para possível sequela, Wick dá o melhor de si e supera expetativas.